sábado, 31 de março de 2018

JALAPÃO 3. O COTIDIANO E O EXTRA COTIDIANO NO DESENVOLVIMENTO DE CONSCIÊNCIA E ATENÇÃO AMBIENTAIS DE PROTEÇÃO E PRESERVAÇÃO DO JALAPÃO.

ENSAIOS EXPERIMENTAIS EM PSICOLOGIA
AMBIENTAL FENOMENOLÓGICO EXISTENCIAL 
JALAPÃO
SANTUÁRIO DAS ÁGUAS 3
O COTIDIANO E O EXTRA COTIDIANO NO DESENVOLVIMENTO DE CONSCIÊNCIA E ATENÇÃO AMBIENTAIS DE PROTEÇÃO E PRESERVAÇÃO DO JALAPÃO.
Afonso H Lisboa da Fonseca, psicólogo.
Não obstante a sua imensa importância ambiental, o Jalapão (a região), para além de suas comunidades locais, e do fluxo crescente de turistas e visitantes, ainda é muito pouco conhecido. Nem sempre os visitantes apre-endem, junto com a beleza de sua natureza, a fantástica dinâmica e importância ambiental.
As informações que são veiculadas sobre a região ainda são muito fragmentárias, pouco informadas, parciais, ou distorcidas.
A questão urgente é a da proteção e da conservação do Jalapão contra as agressões e destruição já em curso. Em particular, as agressões e destruição provocadas pelas queimadas, pelo plantio soja, de eucaliptos, e outras plantações, e pela pecuária. Que já produzem danos muito significativos. Danos que podem se tornar irreversíveis.
A questão central é a de proteger e conservar o ciclo ambiental das águas do Jalapão. Como forma de proteger o ciclo ambiental das águas no mundo e no Brasil. Em particular nas bacias dos Rios Tocantins e Amazonas, na bacia do Rio Parnaíba, na bacia do Rio São Francisco; e dos sistemas ambientais brasileiros e mundiais de que eles participam.
Isto requer o desenvolvimento de uma consciência, em particular de uma consciência ética, e de uma atenção ambiental local, regional, brasileira, e mundial -- com relação ao que é o Jalapão, e com relação à necessidade da efetivação de ações ambientais, governamentais e não governamentais, de proteção e de conservação.
É importante observar que tanto o Governo Federal como os governos estaduais estabeleceram importantes reservas ambientais no território do Ja-lapão. Reservas que são importantes conquistas, e importantes pontos de partida. Mas que são ainda insuficientes.
Como, junto com o desconhecimento, dissemina-se a noção de que a região é uma região excepcional, há um interesse crescente pelo Jalapão; interesse especializado, e interesse turístico. Mas uma enorme carência de informações fidedignas.
A questão se complica, ainda, quando as populações externas apreendem de um modo distorcido o significado do Jalapão. Como um deserto no Brasil Central, por exemplo; ou como um oásis, etc.
O que não esclarece e confunde a consciência coletiva.
A designação da região com o termo Jalapão, forte e estritamente en-raizada na tradição da cotidianidade local, como vimos, confunde e prejudica a compreensão do que ele efetivamente significa. Tanto por parte das populações locais, como por parte dos visitantes.
Esta perspectiva de compreensão mais abrangente e essencial do Jalapão – como de qualquer ambiente -- só pode ser dada por uma perspectiva e ótica não cotidianas, extra-cotidianas. O que conflita com os sentidos cotidianos de compreensão e da designação da região.
É interessante considerar que a vida social se estrutura nas esferas da vida cotidiana, e da vida não cotidiana . A esfera da vida cotidiana é a esfera da linguagem, dos usos e dos úteis; da mesma forma que a esfera das pessoas particulares e das particularidades, esfera das objetivações em si. A esfera da vida não cotidiana é a esfera da vida remetida à genericidade humana, e a esfera das objetivações para si. A esfera da Ciência, da política, da literatura, da ética.
É, assim, muito necessário -- ao lado da valorização e do respeito pela perspectiva e ótica cotidianas -- o desenvolvimento regular e durador da cultura de uma perspectiva, e de uma ótica, de uma ética, extra cotidianas, na apreensão e na avaliação do Jalapão. Uma perspectiva extra cotidiana que possa esclarecer e apreender os seus sentidos mais essenciais e abrangentes, o sentido de sua importância ambiental, da necessidade, dos modos, e da mobilização, da ação, institucional e informal, governamental e não governamental, por sua proteção e conservação ambientais.
Ou seja, a cultura de uma compreensão do Jalapão na esfera da extra cotidianidade que caracterizam a Biologia, a Cultura e a Política ambientais, a Ciência, a Filosofia, a Antropologia, a Sociologia, o Direito, os movimentos sociais, e as instituições da sociedade civil...
Esfera extra cotidiana esta que se interpenetra, mas que está fora, da esfera das objetivações em si da vida cotidiana do Jalapão.
A distinção, e as relações, entre a vida cotidiana, e a vida extra coti-diana nos permitem, assim, entender questões muito importantes com relação ao Jalapão, com relação ao ambiente, e com relação a conservação ambiental.
Desta forma, pensar as distinções, e interpenetrações, das esferas sociais da vida cotidiana e da vida extra cotidiana em termos do Jalapão é extremamente necessário. Isto porque existe uma significativa contradição entre o que significa o Jalapão ambientalmente -- significado que só pode ser apreendido numa ótica e perspectiva de culturas extra-cotidianas, das obje-tivações genéricas da humanidade --; e a sua apreensão, inclusive a sua designação, na esfera cotidiana das populações que o habitam, e das que o visitam, na esfera das objetivações em si da vida cotidiana, adstrita à coti-dianidade da linguagem, dos usos e dos objetos.
A designação como tal do Jalapão tem um sentido original cotidiano, local que tende a se perder cada vez mais, para a própria população local, tornando-se um termo cada vez menos significativo; e que não traduz, na verdade esconde, ou que conflita, com o que significa efetivamente o Jalapão, em termos geológicos e ambientais; em termos do que significa o Jalapão para as populações das bacias dos rios Parnahyba, São Francisco, e do Tocantins; em termos do que significa o Jalapão para a Bacia Amazônica, para o Brasil, para a Terra, para a Humanidade, num tempo em que urge o desenvolvimento de uma consciência crítica e ativa da necessidade de um respeito pelas águas, pela preservação de seus mananciais, reservatórios, e ciclos...
Uma coisa é, assim, o significado e a importância do Jalapão para aquelas exíguas comunidades que o habitam, e para as quais o Jalapão tem um sentido e importância na vida cotidiana. Mesmo para as outras comunidades ribeirinhas dos riachos e rios que emanam do Jalapão, e que têm nessas águas um elemento central de sua vida cotidiana.
Outra coisa, distinta -- que não anula nem desvaloriza a esfera da cotidianidade --, é ganhar distância das esferas de objetivações em si da vida cotidiana, e apreender, e compreender o Jalapão de uma perspectiva não cotidiana, da ótica e perspectiva da genericidade humana, das objetivações genéricas do humano; ou seja, da esfera não cotidiana da humanidade, que en-volve, dentre outras, a ótica da ambientologia, da ciência, da filosofia, da política, da arte, da gestão ambiental do presente e do futuro da humanidade.
A perspectiva não cotidiana do Jalapão permite uma apreensão dele e de sua importância para além dos estreitos, e pobres, limites da cotidianidade.
A importância dele como aqüífero imenso e importantíssimo, depositário e provedor, possibilitador, de águas puras e abundantes; a importância dele para comunidades ao longo dos rios das bacias que ele nutre: a importância dele para as comunidades ao longo do Rio Parnaíba, que vai cortando o Piauí, até o seu Delta monumental, o maior delta das Américas. A importância dele para o Rio São Francisco, e para as suas populações barranqueiras e não barranqueiras, sertanejas, até o seu desaguar, na sua foz, entre Alagoas e Sergipe, na altura do pontal do Peba. A importância do Jalapão na constituição das águas da Bacia do Tocantins, e, daí, na constituição das águas dos rios da Bacia do Amazonas...
Para além do chão calcinado de areia decorrente da decomposição de pedra vermelha, para além da sensualidade dos belíssimos e charmosos rios, e riachos, brejos, lagos, fervedouros, corredeiras e cachoeiras; para além das águas para os mergulhos e banhos puríssimos, e deliciosos; para além da puríssima, e vital, água de beber das populações autóctones; para além da água abundante para suas cotidianas lavadeiras – tudo muito importante, evidentemente --, o Jalapão tem uma importância extra cotidiana fundamental, e histórica, para outras comunidades, ao longo das linhas e sinuosidades dos cursos d’água que ele engendra e generosamente nutre. São tantas, e tão vastas, na Bacia do Tocantins, na Bacia do Amazonas, na Bacia do São Francisco, na Bacia do Parnaíba, para o clima e a qualidade de vida na Terra. Na verdade, efetivamente, uma importância histórica e fundamental para a humanidade como um todo. Importância que o nível de apreensão da cotidianidade, efetiva e decididamente, não pode dar conta...
Assim, a designação, histórica e cotidianamente constituída, de Jalapão não é suficiente para a importante apreensão dele na perspectiva extra cotidiana. E, mais que isto, confunde. Em particular, diante das confusas in-formações de que o Jalapão seria um deserto do Estado do Tocantins, em função de suas dunas, (decorrência, na verdade, da erosão eólica e pluvial da Serra do Espírito Santo), confusa e paradoxalmente ornado de rios e ca-choeiras...
Na verdade, o que caracteriza o Jalapão é o seu monumental fenômeno água.
Águas de enorme importância. Para as populações que lá habitam, e para as populações dos rios das bacias para que ele contribui. Para o clima, para as condições e qualidade de vida no Brasil, e para o clima, condições e qualidade de vida na Terra.
Definitivamente o Jalapão precisa ser protegido, conservado, e rigo-rosamente respeitado ambientalmente. E as perspectivas da cotidianidade das rarefeitas populações do Jalapão não poderiam, naturalmente, nem com-preendê-lo enquanto tal, muito menos protegê-lo e conservá-lo.
Até porque, no caso da proteção e da conservação, as agressões e destruições ao Jalapão, em particular as decorrentes do plantio intensivo, usurário e irracional de soja, não advêm da esfera da cotidianidade das rarefei-tas populações, e só podem ser entendidas, afrontadas e confrontadas, a partir de iniciativas oriundas de setores da não cotidianidade, pertinentes à cultura ambiental.
De modo que, é preciso desenvolver uma ética, uma consciência, e uma atenção ambientais, ambientativas, não cotidianas com relação ao Jalapão. Chega da veiculação de distorções e informações distorcidas com relação ao Jalapão para as integrações não cotidianas que por ele se interessam.
Progressivamente, as comunidades cotidianas do Jalapão, sem a perda de sua especificidade, integrar-se-ão a uma mentalidade não cotidiana a respeito dos significados e sentidos do Jalapão. E de como estes sentidos podem estar ligados, e potencializar, os seus meios de vida cotidiana. O que é fundamental, porque são estas comunidades que podem ser os guardiões cotidianos do Jalapão. É fundamental, e urge, uma melhora e progressiva otimização efetivas das condições e das qualidades de vida dessas comunidades, em função delas mesmo, e como recurso estratégico de sua proteção e conservação.
Por outro lado, o desenvolvimento de uma mentalidade ambientalmente responsável, e ambientalmente ativa, não cotidiana, no Brasil, e por todo o mundo, com relação ao Jalapão, passa por uma elucidação do que ele efe-tivamente é, para além de um nome exótico, para além da idéia de que se trata de um deserto no Brasil Central (um absurdo efetivo), ou coisas do gênero. Passa, igualmente, pelo conhecimento lúcido e claro, objetivo, atento e ativo da natureza e dos processos das destruições e agressões por que passa um ecossistema tão precioso. E pelo desenvolvimento efetivo, em todas as esferas, de ações ecologicamente necessárias para afrontar e enfrentar não cotidianamente as agressões e destruições, cotidianas, e não cotidianas.
Bibliografia
BEHR, .M. JALAPÃO – SERTÃO DAS ÁGUAS, São Bernardo do Campo, Somos,.
HELLER, Agnes SOCIOLOGIA DA VIDA COTIDIANA, ,Madrid, Taurus.

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