sábado, 31 de março de 2018

JALAPÃO 1. SANTUÁRIO DAS ÁGUAS.

ENSAIOS EXPERIMENTAIS EM PSICOLOGIA
AMBIENTAL FENOMENOLÓGICO EXISTENCIAL 4.
SANTUÁRIO DAS ÁGUAS 1
Jalapão
Afonso H Lisboa da Fonseca, psicólogo.
O que é o Jalapão?
Esta pergunta subjaz a um interesse cada vez maior pelo Jalapão. E a uma oferta de informações fragmentárias e sumárias, não raro distorcidas, ou franca-mente errôneas.
De longe às vezes não é fácil de discernir.
Uma coisa é ponto pacífico, e indo pela ordem de prioridades, e direto ao assunto: o chamado Jalapão é em seu subsolo um imenso aqüífero, situado na região de ecótone entre as Caatingas dos Sertões do Sudoeste do Estado Piauí, do Sul do Estado do Maranhão, e do Extremo Oeste do Estado da Bahia, por um lado; por outro, o Cerrado e a Amazônia do Sudeste do Estado do Tocantins.
Uma região que tem, como limites Ocidentais, a Chapada das Mangabeiras (antiga Chapada da Tabatinga); como limite Oriental Meridional, a Cidade de Ponte Alta, no Estado do Tocantins; e como limite Oriental Setentrional a Cidade de Novo Acordo, também no Estado do Tocantins.
De forma que, grosso modo, a região do Jalapão forma um triângulo. Tendo como vértice Oriental a Chapada das Mangabeiras; como vértices Ocidentais as cidades de Novo Acordo, ao Norte; e a cidade de Ponte Alta, ao Sul.
Fitogeograficamente a região guarda características intermediárias da flora, com a concomitante fauna, do Cerrado, e do Sertão; com características, igual-mente, da Amazônia.
Da Chapada das Mangabeiras, nasce, de um lado, o Rio Parnaíba, pelo Rio Parnaibinha; de outro lado, nascem os afluentes do Rio São Francisco, como o Sa-pão e o Preto; de outro lado, nascem os afluentes do rio Tocantins, como o Rio Galhão e o Rio Formoso, que vão desaguar no Rio do Sono, depois no Rio Novo; o Rio Ponte Alta, e o Rio das Balsas. De modo que nascem na Chapada das Manga-beiras, no Jalapão, rios que vão contribuir com as águas de três importantes bacias de rios brasileiros: a do Parnaíba, ao Norte; a do São Francisco, a Leste; e a do Tocantins, a Oeste.
No âmbito do Jalapão, inclusive, misturam-se, em suas origens, águas origi-nárias da bacia do Rio Tocantins e da Bacia do São Francisco, caracterizando o que se conhece em hidrologia como o fenômeno de águas emendadas.
As areias quartzosas da Serra do Espírito Santo fazem com que ela se des-faça lentamente, sob a ação da erosão eólica e pluvial . As areias conduzidas pelo vento se acumulam diante da Serra, ganhando a forma de dunas. O que confere a esta área do Jalapão uma aparência de deserto.
A aparência de deserto é também conferida pelo ambiente seco, arenoso e poeirento de Cerrado e de Sertão, de uma superfície geológica decorrente da de-composição de pedra de areia vermelha. E do fato de que as águas descem para o subsolo de imensa receptividade, e capacidade de armazenamento, aflorando nos cursos determinados dos riachos e rios, lagos e brejos.
Por outro lado, as areias que se desprendem da Serra do Espírito Santo, formam as famosas dunas do Jalapão. Que lembram dunas de deserto. Mas, nada mais equivocado. A água abundante, inclusive em torno das dunas, e subterrâneas.
Mas é por isso que se pensa freqüente, e equivocadamente, que o Jalapão é uma espécie de deserto. Na verdade, apesar da aparência ressequida da superfície de Cerrado, ou mesmo de Caatinga, o Jalapão é mesmo um portentoso aqüífero, que verte uma impressionante quantidade de águas, pelos seus rios, riachos, lagos, fervedouros. Águas que contribuem de um modo importante, como dissemos, para a constituição das mencionadas bacias.
Em tempos de formação da Terra, a região do Jalapão estava submersa pelo imenso mar interior que se iniciava com o Rio Amazonas, e terminava no Rio da Prata, ocupando grande parte do Centro e do Oeste do Brasil. Suas águas atuais, além de retidas da chuva num imenso sistema de pequenas bacias de captação, e armazenadas no seu subsolo, são águas remanescentes ainda das fontes formado-ras do Mar pré-histórico. Vindas, certamente, do Norte, da Amazônia, dos Andes, e dirigindo-se, céleres, para o Sul, em direção ao extraordinário Aquífero Guarani.
Mas há uma razão, ainda, para a idéia de que o Jalapão é um deserto. O ja-lapão é, ainda hoje um deserto de gente. Tem uma das menores densidades popu-lacionais do país. Podemos caminhar por horas e horas, por dias, sem encontrar uma viva alma.
A região foi ocupada, desde a pré-história, por paleo-índios. Que precede-ram os Indígenas, em particular os índios Croas.
Mateiros, o povoado conhecido como “a capital do Jalapão”, foi fundado, segundo a sua história, por caçadores vindos do Piauí, do Maranhão, e da Bahia.
Com a colonização, brancos e mestiços chegaram à região, dizimando os in-dígenas.
Durante a febre da borracha, na primeira metade do século XX, a região foi invadida por colonos do Maranhão, em busca do látex, produzido pelas mangabei-ras da Chapada da Tabatinga (depois denominada de Chapada das Mangabeiras), para a fabricação de borracha. Até que a demanda pela produção da borracha bra-sileira entrou em declínio, o que certamente levou mais habitantes para a região, em função do enorme drama social decorrente da decadência da produção de bor-racha na Amazônia.
Muito antes, como dissemos, nos tempos de formação geológica da Terra, toda a região do Jalapão, e do Brasil Central, foi o fundo de um mar interior. Mar este que adentrava o continente na região amazônica, e se espalhava pelo Brasil Central; novamente se conectando ao oceano externo na altura do Rio da Prata.
As idas e vindas desse mar -- e sua ida definitiva, em função da elevação da Cordilheira dos Andes -- deixou na região do Jalapão um subsolo de arenito. Este tipo de rocha é altamente permeável à água, podendo captá-la e reter com uma enorme capacidade de armazenamento. Podendo, assim, acumulá-la em enormes proporções, vertendo-a subsequentemente em águas superficiais.
No solo superficial da região pode-se perceber o relevo modelado pelos mo-vimentos do mar. Seja nas rochas, seja nas curiosas terras em formato de conchas, ou de bacias, com córregos atapetados de fina areia branca, que coletam as águas das chuvas, e conduzem-nas aos riachos e aos rios; e, certamente, ao aquífero subterrâneo.
O sub-solo do Jalapão caracteriza-se, assim, e caracterizou-se, ao longo dos milênios, como um subsolo com uma imensa capacidade de receber, armazenar e verter a água armazenada; um imenso aquífero. Muita água já é perenemente ar-mazenada neste subsolo. As chuvas anuais, no período de Setembro-Outubro a Abril, anualmente, repõem a água vertida. De modo que o Jalapão é sempre um portentoso aqüífero. Cognominado por alguns como Caixa D’Água do Brasil. O que efetivamente é pouco enquanto designação.
As chuvas cuidam assim, anualmente, de regenerar e re-plenificar a enorme e impressionante capacidade de absorção e de armazenamento de águas desse subsolo aqüífero. De modo que as águas mantêm lagos, rios e regatos perenes. E o aquífero se mantém como um impressionante fenômeno hídro ecológico, em que as águas brotam do solo abudantíssimas, freqüentes e intensas, tanto por sua força eruptiva como pela força da gravidade na descida para os rios que vão se constituir nos afluentes do Parnaíba, do Tocantins e do São Francisco.
Localmente, estas águas configuram um impressionante fenômeno hídrico, compondo uma infinidade de rios, riachos e regatos, que cruzam toda a região, com suas quedas d’água, cachoeiras e corredeiras, mais ou menos intensas; lagos, e brejos. Muitos dos laguinhos se formando a partir de águas que brotam com tal força e intensidade que nelas boiando uma pessoa não consegue afundar, tal é a pressão com que essas águas brotam da terra. São os chamados fervedouros, nos quais a água borbulha vigorosa, a partir, do chão em branca e finíssima areia. Em alguns locais os rios podem ser tão torrenciais que permitem a prática do rafting, em locais que podem ser considerados como dos melhores do mundo para tal prá-tica.
Muito diferentemente do modo como frequentemente se pensa o Jalapão, como um deserto, em função da aridez da maior parte de sua superfície, e em função das dunas de areias quartzosas, decorrentes da decomposição da Serra do Espírito Santo, muito diferentemente, o Jalapão é, especificamente, um imenso fenômeno hídro ecológico – um imenso e belíssimo aquífero. Que reivindica, de um modo irrecusável, a nossa admiração e perplexidade, o nosso respeito, carinho, e decidida proteção e conservação.
Bibliografia
BEHR, M. JALAPÃO – SERTÃO DAS ÁGUAS, São Bernardo do Campo, Somos,.
HELLER, Agnes SOCIOLOGIA DA VIDA COTIDIANA, ,Madrid, Taurus.

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