sábado, 31 de março de 2018

CONSIDERAÇÕES ONTOLÓGICAS E ESTÉTICAS PARA UMA ÉTICA AMBIENTAL

ENSAIOS EXPERIMENTAIS EM PSICOLOGIA
AMBIENTAL FENOMENOLÓGICO EXISTENCIAL 1.

Considerações ontológicas e estéticas para uma ética ambiental.


Afonso H Lisboa da Fonseca, psicólogo.

Não se trata portanto da impossibilidade de atingir uma realidade exterior aos nossos afetos, mas da impossibilidade de distinguir duas ordens de realidade: subjetiva e objetiva, ideal e material, numênica e fenomênica. Trata-se da impossibilidade de transcendência: o que quer que seja “o mundo”, o homem é parte integrante dele, e não pode reivindicar a exterio-ridade que seria necessária para instituir a si mesmo como sujeito e ao mundo como objeto. O percurso que conduz do homem ao mundo não é uma relação entre sujeito e objeto (...).
Maria Cristina F. Ferraz.



A evidência compreensiva, fenomenológico existencial, vivencial, de que somos indissociáveis do que entendemos como ambiente, inextrincáveis, é, ontologicamente, acessível a qualquer ser humano. Esta evidência ontológica, fenomenológico existencial, de nossa co-pertinência ao que chamamos de ambiente se dá, ambiguamente, no modo de sermos da tensão alteritária da movimentação mutual, e recíproca, de uma dialógica eu-tu.
É também próprio, não obstante, a este ser ambíguo que somos, ambi-entais, uma ambigüidade natural de modos de ser. Ambigüidade esta que, além da dialógica eu-tu, comporta modos eu-isso de sermos. Nos quais a vivência fenomenológica em geral, e a vivência da evidência desta condição de integridade ambiental, em particular, não se dão na imediaticidade de nosso modo humanamente ontológico, fenomenológico existencial dialógico. De modo que, assim, se cinde, se rompe, a dialógica ambiental, e nos constituímos e apartamos nós próprios como sujeitos, ao tempo que ambiente, apartado, se constitui como objeto.
A prevalência cultural desses modos não ontológicos de sermos induz-nos a uma dis-integração, e a uma des-integração, da nossa condição, e modo, ontológico, dialógica e dinamicamente íntegro, de sermos ambientais. E a uma dicotomização, na qual constituímos cada vez mais o "ambiente" como objeto; e a nós a próprios como sujeitos. Numa segregação progressiva, na qual o "ambiente", como objeto -- e não como o tu de uma vivência fenomenológico existencial dialógica --, é percebido de uma forma cada vez mais estranha, alienígena, hostil, e fóbica, utilitária, pragmática, mobilizando contra ele o nosso estranhamento, a nossa alienação, a nossa rejeição, o nosso malquerer, a nossa hostilidade, a nossa destrutividade...
No modo ontológico de sermos ambientais, estamos integrados ao am-biente, na dialógica compreensiva dos fluxos, ritmos, demandas e necessida-des que nos são dialogicamente comuns e pertinentes.


FENOMENOLOGIA, ONTOLOGIA E ONTO LOGOS AMBIENTAL
A Ontologia Fenomenológica, Fenomenologia Ontológica mostra-nos e enfatiza o modo de sermos de nossa vivência ontológica, vivência de ser no mundo. Na qual, contrariamente aos modos de nossa consciência coisificada, não nos segregamos, não nos desmembramos, do que entendemos como meio ambiente, numa dicotomização sujeito-objeto.
Originariamente, em nossa vivência ontológica, fenomenológico existencial, vigora a evidência vivencial da condição de que somente e-xistimos numa correlação intrínseca, indissociável, inevitável, incontornável, com o mundo; anteriormente a qualquer possibilidade de dissociação.
O que se chamou de intencionalidade, na Fenomenologia da tradição de Franz Brentano, descreve a evidência de que nem sujeito nem objeto, nem consciência, nem mundo, existem em si. O sujeito, e a sua consciência, não existem em si, e só existem numa correlação intrínseca com a suposta objetivi-dade e independência do mundo. O sujeito só existe enquanto direcionado (intentio) ao mundo, ao objeto. Da mesma forma que o mundo, o objeto, só existem enquanto remetidos ao sujeito, enquanto remetidos à constituição originária de sua consciência enquanto ser no mundo. Anteriormente a qual-quer possibilidade de dissociação.
Os termos eco-logia, ecos-sistema, por exemplo, são, a rigor, impróprios. Na medida em que remetem ao meio ambiente como uma casa, na qual nos inseriríamos... A evidência compreensiva, implicada, da vivência ontológica não é exatamente esta; não é a de um meio ambiente, no qual, e do qual, sub-sistiríamos como em um lar. Somos indissociável e necessariamente implica-dos com o ambiente.
Na verdade, o que assim nos é dado é o meio ambiente ao modo de sermos de nossa experiência coisificada, ôntica, eu-isso.
Ao modo de sermos de nossa originária vivência ontológica de ser no mundo, fenomenológica, e existencial, a evidência vivencial é a de que somos indissociáveis do que, de outro modo, aparece como um meio ambiente, como uma casa que abrigaria os seres vivos.
Ou seja, ao modo de sermos de nossa originária vivência ontológica de ser no mundo, nós mesmos, e o meio ambiente, perfazemos um ser único, múltiplo, e íntegro, o ambi-ente. Que, como tal, é indissociável, está aquém da dicotomização sujeito-objeto. Ontológicamente, em nossa apreensão, compreensão, fenomenológico existencial não nos segregamos do meio ambiente, e com ele perfazemos este ser íntegro. O ambi-ente. No qual o que entendemos como "nós mesmos" e "o mundo ambiente" nos damos na indissociabilidade de uma dialógica ambiental, que se constitui como dualidade eu-tu de sermos no mundo, e que caracteristicamente não permite a dicotomização sujeito-objeto.
Dito de outra forma, a vivência fenomenal de sermos no mundo se dá num modo de sermos/num modo de ser o mundo que não comporta a dicoto-mia sujeito-objeto. Mas que, ontologicamente, fenomenológico existencialmente, se dá na dialógica tensamente alteritária, e poiética, hermenêutica, da movimentação recíproca e mutual da dualidade eu-tu.

De duas formas fundamentais e originárias se constitui a ambigüidade característica do ambi-ente.
(1) Em sua propriedade, como vivência dialógica fenomenológico exis-tencial, o ambi-ente é, específica e eminentemente, ambíguo. Nesse caso, a ambigüidade do ambi-ente se constitui como a movimentação alteritária, mu-tual e recíproca, da dialógica eu-tu. Ou seja, como a relação com um outro, com uma diferença e alteridade radicais, com que dialógica e indissociavelmente somos vinculados.
Enquanto ambi-ente, vivemos, assim, na vivência do modo ontológico, fenomenológico existencial, de sermos, a dualidade da movimentação recípro-ca da relação com um tu. Com uma alteridade radical, mutual e recíproca, que de nós não se dissocia. E que, nem por isso, se reduz em sua alteridade, ou em sua radicalidade alteritária.
Na indissociável dualidade intrínseca ao modo de sermos da dialógica eu-tu, o ambiente é sempre incontornavelmente outro. E um foco autônomo de produção de sentido. Ainda que se dê no âmbito da vivência fenomenológico existencial integrada, mutual e recíproca, e que não comporta uma dicotomização sujeito-objeto.

Ambiguamente, ainda -- ainda que, no modo de sermos de nossa vivên-cia ontológica, fenomenológico existencial, o ambiente não se dissocie de nós próprios, como objeto --,
(2) fora do modo de sermos de nossa vivência ontológica originária, em nosso modo coisificado, e não-presente, não atual, de sermos, eu-isso (Buber), ele, o ambiente, se constitui, sim, objetivamente, se constitui como objeto, co-mo meio ambiente, eco-lógico. Calculável, manipulável, utilizável, realizado, coisa. Um isso, na não dialógica de um relacionamento eu-isso.
De modo que -- dimensão de sua ambigüidade -- o ambiente, que onto-lógicamente: ao modo de sermos de nossa vivência ontológica fe-nomenológico existencial, não é coisa; também se constitui como coisa, como objeto. Ao modo de sermos de um relacionamento -- ôntico, não ontológico -- eu-isso. Ainda que, propriamente, ontológicamente, ao modo da vivência ontológica fenomenológico existencial de sermos, o ambiente só se dê na dialógica do modo de sermos eu-tu. Na tensão dialógica alteritária, que não se dá como relação sujeito-objeto.
Assim, a ambigüidade ambi-ental se dá, (1) na indissociável tensão e movimentação alteritária da dialógica da relação eu-tu, intrinsecamente mutual e recíproca. Na qual o ambiente não existe como objeto, mas existe, alteritá-riamente, como um tu, é um outro, diferença ativa, autônoma e radical, um foco autônomo de produção de sentido...
Da mesma forma, (2) a ambigüidade do ambi-ente se dá no fato de que ele, o ambiente, ambígua e alternativamente, se constitui, em consonância com os modos de sermos, ora como um tu, na dialógica da relação eu-tu; ora como um isso, como objeto, como coisa, uso e utilidade, característicos do modo de sermos do relacionamento eu-isso.

O ambiente como coisa - no modo eu-isso, ôntico, de sermos - não é um processo fenomenológico existencial -- dialógico, ontológico --, de geração de sentido. Não é dado como uma dinâmica de logos de integridade e implicação originária, fenomenológicas, ação, atualização. Não é, em particular, fenômeno, fenômeno-logos, não é existencial (eksistencial). É o ambiente acontecido, coisificado, que, como experiência, não comporta, em si, a potência, a possibilidade, e a ação, a atualização. Não comporta o pres-ente e a pres-ença, não comporta a atualidade. É só passado. Não comporta a consciência, e, eventualmente, a motricidade, como processos compreensivos, fenomenológico existenciais, de desdobramento de sentido, e de ação. Não é o ambiente atual, e presente.
Em nosso modo ontológico, eu-tu, de sermos e devir, o ambiente, indis-sociável em termos de dicotomização sujeito-objeto, é inteiramente presente e atual. Ou seja, é pres-ente, no sentido de que não é da ordem da coisidade. É pres-ente, pré-coisa. Dá-se, não ao modo de sermos de coisa, mas ao modo de sermos de pré-coisa, pres-ente, pré-ôntico. Ainda que, passada a momen-taneidade da vivência ontológica, fenomenológico existencial dialógica, converta-se, inevitavelmente, em coisa. Possibilidade atualizada, realizada, um isso. O que é natural.
Em sua efetividade, o ambiente é, assim, especificamente atual, atuali-dade e atualização (vivência fenomenológico existencial atual). Na medida em que é inteiramente da ordem do ato, da ação, da atualização. No sentido onto-lógico do termo, no sentido da vivência ontológica, o ambiente só existe como ato, como ação, como atualização. Ou seja, o ambiente só existe ontológica-mente como possibilidade, como potência, como possível que se desdobra em atualização, em ação, fenômeno lógica.
Daí que, similarmente a nós próprios, em nosso modo ontológico feno-menológico existencial de sermos, o ambiente seja, essencial e eminentemente, hermenêutico, no sentido compreensivo da interpretação, atualização, fenomenológico existencial, de possibilidades.
Fora de nosso modo de ser ontológico, e isto constitui o outro pólo desta dimensão de sua ambigüidade -- fora de nosso modo de ser fenomenológico existencial, dialógico --, no modo coisificado de sermos, o ambiente se constitui como coisa, como fato, como acontecido, como dado, como morto. Mormente quando este modo de sermos, coisificado, se instala e se torna hegemônico, enfraquecendo a natural alternância dele como modo de sermos com o modo de sermos ontológico, fenomenológico existencial, dialógico.
Ao seu nível próprio -- ao nível da propriedade de sua específica vivên-cia fenomenológico existencial --, o ambiente é vivo, vividamente vivido, é estésico, e estético.
Vivencialmente, estésica, e esteticamente vivido, e avaliado.
De modo que, na vivência ambiental fenomenológico existencial, há a constituição de um logos fenomenológico ambiental, que, como tal, ontológico, fenomenológico existencial, vivido, é eminentemente estésico, e estético. E que é, nietzscheanamente, a raiz e o critério de uma ética ambiental, de uma ética da sustentabilidade.
Esse logos estético do ambiente, sintoma de saúde humana e am-biental, pode se dar sempre em culturas que se permitem a prevalência de uma vivência dialógica, fenomenológico existencial, do ambiente.
Assim, podemos sentir a presença essencial deste logos ambiental na carta crítica do Cacique Seatle ao Presidente dos Estados Unidos, que queria comprar as terras de sua tribo.
O ar é precioso para o homem vermelho, pois todas as coisas compartilham o mesmo sopro: o animal, a árvore, o ho-mem, todos compartilham o mesmo sopro. Parece que o homem branco não sente o ar que respira. Como um homem agonizante há vários dias, é insensível ao seu próprio mau cheiro. (...)
Vamos meditar sobre sua oferta de comprar nossa terra. Se nos decidirmos a aceitar, imporei uma condição: O homem branco deve tratar os animais desta terra como seus irmãos.
O que é o homem sem os animais?
Se os animais se fossem, o homem morreria de uma gran-de solidão de espírito. Pois o que ocorre com os animais, logo também acontece com o homem. Há uma lição em tudo. Tudo está ligado.
Vocês devem ensinar às suas crianças que o solo a seus pés é a cinza de nossos avós. Para que respeitem a terra, digam a seus filhos que ela foi enriquecida com a vida de nosso povo. Ensinem às suas crianças o que ensinamos às nossas: que a ter-ra é nossa mãe. Tudo o que acontece à Terra, acontece também aos filhos da Terra. Se os homens cospem no solo, estão cuspin-do em si mesmos.
Disto nós sabemos: a terra não pertence ao homem; o ho-mem é que pertence à terra. Disto sabemos: todas as coisas en-tão ligadas como o sangue que une uma família. Há uma ligação em tudo.
Tudo o que acontece à Terra acontece, também, aos filhos da Terra.
O homem não teceu a teia da vida: ele é simplesmente um de seus fios. Tudo o que o homem fizer ao tecido, estará fazendo a si mesmo. Mesmo o homem branco, cujo Deus caminha e fala como ele de amigo para amigo, não pode estar isento do destino comum. É possível que sejamos irmãos, apesar de tudo. Vere-mos.
De uma coisa estamos certos (e o homem branco poderá vir um dia a descobrir): Deus é um só, qualquer que seja o nome que lhe dêem. Vocês podem pensar que O possuem como dese-jam possuir a nossa terra. Mas não é possível. Ele é o Deus do homem, e sua compaixão é igual para o homem branco e para o homem vermelho. A terra lhe é preciosa, e feri-la é desprezar o seu Criador. Os homens brancos também passarão; talvez mais cedo do que todas as outras tribos. Sujem suas camas, e uma noi-te acordarão sufocados pelos próprios dejetos.
Ao desaparecerem, vocês brilharão intensamente, ilumina-dos pela força do Deus que os trouxe a esta terra, e que, por al-guma razão especial, lhes deu o domínio sobre ela e sobre o ho-mem vermelho. Esse destino é um mistério para nós, pois somos selvagens, mas não compreendemos que todos os búfalos sejam exterminados, os cavalos bravios sejam todos domados, os recantos secretos das florestas densas impregnados do cheiro de muitos homens, e a vista dos morros obstruída por fios que falam. Onde está o arvoredo? Desapareceu. Onde está a água? Desapa-receu. É o final da vida e o inicio da luta para sobreviver.
Como é que se pode comprar ou vender o céu, o calor da terra? Essa Idéia nos parece um pouco estranha. Se não possuí-mos o frescor do ar, e o brilho da água, como é possível comprá-los.
Cada pedaço de terra é sagrado nas tradições de meu po-vo. Cada ramo brilhante de pinheiro, cada punhado de areia das praias, a penumbra na floresta densa, cada clareira, e inseto a zumbir, são sagrados na memória e na experiência de meu povo. A seiva que percorre o corpo das árvores carrega consigo as lem-branças do homem vermelho...
Essa água brilhante que escorre nos riachos e rios não é apenas água, mas o sangue de nossos antepassados.
Se lhes vendermos a terra, vocês devem se lembrar de que ela é sagrada, e devem ensinar às suas crianças que ela é sagrada, e que cada reflexo nas águas límpidas dos lagos fala de acontecimentos e lembranças da vida do meu povo. O murmúrio das águas é a voz dos meus ancestrais.
Os rios são nossos irmãos, saciam nossa sede. Os rios carregam nossas canoas e alimentam nossas crianças. Se lhes vendermos nossa terra, vocês devem lembrar e ensinar para seus filhos que os rios são nossos irmãos e seus também. E que, por-tanto, vocês devem doar aos rios a bondade que dedicariam a qualquer irmão.
Sabemos que o homem branco não compreende nossos costumes. Uma porção de terra, para ele, tem o mesmo significa-do que qualquer outra, pois é um forasteiro que vem à noite e rou-ba da terra tudo de que necessita. A terra, para ele, não é sua ir-mã, mas sua inimiga e, quando ele a conquista, extraindo dela o que deseja, prossegue seu caminho. Deixa para trás os túmulos de seus antepassados e não se incomoda. Rouba da terra aquilo que seria de seus filhos, e não se importa... Seu apetite devorará a terra, deixando somente um deserto.
Eu não sei... Os nossos costumes são diferentes dos seus. A visão de suas cidades fere os olhos do homem vermelho. Talvez porque o homem vermelho seja um selvagem e não compreenda.
Não há um lugar quieto nas cidades do homem branco. Nenhum lugar onde se possa ouvir o desabrochar de folhas na primavera, ou o bater de asas de um inseto.
Mas talvez seja porque eu sou um selvagem e não com-preendo. O ruído das cidades parece somente insultar os ouvidos. E o que resta de um homem, se não pode ouvir o choro solitário de uma ave, ou o debate dos sapos ao redor de uma lagoa, à noite? Eu sou um homem vermelho, e não compreendo. O índio prefere o suave murmúrio do vento encrespando a face do lago, e o próprio vento, limpado por uma chuva diurna, ou perfumado pelos pinheiros.


DIALÓGICA AMBIENTAL
Como o nosso corpo, o ambiente que perfazemos, solidariamente impli-cados, em nossa vivência ontológica, fenomenológico existencial -- já que é apenas ao modo de sermos desta vivência que o ambiente pode propriamente se dar --, possui desconhecidas e fundamentais dimensões. Mais do que des-conhecidas, essas dimensões são dimensões específica e eminentemente ativas, lógicas -- no sentido da harmonia - em sua funcionalidade, e incontroláveis. Cíclicas, inovativas, nutritivas, sustentam a vida.
O ambiente tem assim a sua dimensão irrevogavelmente desco-nhecida, misteriosa e ativa. Que subsiste e atua segundo a alteridade radical de um tu. E que gera, preserva e sustenta a vida humana, e de todos os seres. O verso do Tao Te Ching apreende a particularidade destas dimensões e dinâmicas ambientais, e tematiza sacralidade do ambiente, e a importância do cuidado ao lidarmos com elas.
Quereria alguém arrebatar o mundo e dele fazer o que quises-se?
Não vejo como poderia ter sucesso.
O mundo é um canal sagrado, que não deve ser indevidamente manipulado, nem agarrado.
Manipulá-lo indevidamente é espoliá-lo, agarrá-lo é perdê-lo.
Para todas as coisas, na verdade, há um tempo para ir à dian-teira, e um tempo para seguir à retaguarda;
Um tempo para a respiração lenta e um tempo para a respira-ção acelerada;
Um tempo de aumento de força e um tempo de decadência;
Um tempo para estar de cima e um tempo para estar debaixo.
O sábio, portanto, evita todos os extremos, excessos e extra-vagâncias.

O logos, o sentido da vivência ambiental, do ser ambiental que somos, fenomenológico existencial dialógico, nos é dado, assim, em nosso modo ontológico de sermos, fenomenológico existencial dialógico. A compreensão, portanto, de nossa intrínseca ambientalidade como seres, pressupõe assim a natural alternância entre o nosso modo de vivência ontológica, e o nosso modo de vivência não ontológica, e a prevalência ontológica daquele modo de sermos.
Quando é obstruída a natural alternância entre esses dois modos de sermos, prejudicada, não nos é dada a vivência compreensiva de que nós mesmos e o que entendemos como meio ambiente fazemos, na verdade, parte de uma integridade ontológica, que é indissociável do ponto de vista da vivência fenomenológico existencial. E que se dá numa dialógica sensível, estésica, e estética, que dura indefinidamente.
A prevalência da prejudicação da alternância entre os nossos modos de vivência ontológica compreensiva, e o modo de nossa experiência não ontoló-gica objetivista, nos leva à ruptura da apreensão compreensiva de nossa inte-gridade e de nossa integração dialógica ambiental. Levando a uma relação de estranhamento, de alienação, problemática, utilitária e hostil com um meio ambiente, constituído rigidamente como objeto, como coisa, inevitavelmente a ser, abusivamente, manipulado, espoliado, a ser explorado, hostilizado, e des-truído.
A vivência do logos ambiental, da configuração de sentidos ambientais, característicos de nossa vivencia ontológica fenomenológico existencial dialó-gica, é, como toda a vivência dialógica, regeneradora e transformadora de nos-sas condições existenciais. É vivência de múltiplo que é diferente da soma de partes. Resgata-nos da determinação a que somos inexoravelmente destina-dos na prevalência do modo eu-isso de sermos, e propicia-nos o retorno à in-determinação da potência da vivência de possibilidades. Possibilidades estas que se dão como atualização fenomenológica dos os elementos ambientais vividos, e como potências para atualizações em nossa existência. A vivência do logos ambiental reitera nossa indissociável pertinência ao todo da natureza, a suas inexoráveis dinâmicas de criação e finitude, a sua intrínseca sabedoria.
Como vivência, o logos ambiental é eminente e especificamente estési-co: corpo, vivido e sentidos. Portador dos sentidos da perfeição e da beleza, como vivência, o logos ambiental é eminentemente avaliativo. O privilégio de sua vivência e modo avaliativo é o que chamamos de estética, uma ética da estesia. Ou seja, o modo do procedimento avaliativo que procede, como ação, atualização, da ontológica vivência fenomenológico existencial dialógica de possibilidades. Devir e afirmação de possibilidades da vivência do fenômeno lógica ambiental.
De modo que, mais do que nunca, a verdade e o valor não são teóricos.
Mas, específica e eminentemente, ontológicos, fenomenológico existen-ciais dialógicos.
Em sendo assim, as condições de uma estética e de uma ética ambien-tais envolvem o retornar - o re-voltar -, a partir do ambiente como coisa, como um isso - objeto, objetivo, manipulável, conhecível, utilizável, pragmatizável --, o retornar para o ambiente como vivência ontológica. Na verdade, o retornar à alternância natural entre o modo pragmático de sermos, o modo eu-isso de sermos, e o modo eu-tu de sermos. Ontológico, fenomenológico existencial, dialógico.
É o retorno ao modo ontológico de sermos desta alternância que pode resgatar as condições de apreciação e avaliação ontológicas do ambiente. Que pode propiciar o resgate do respeito e da reverência pelo ambiente, na verdade a sacralidade do ambiente. Como uma monumental alteridade radical, ativa e dinâmica, da qual somos partícipes. E da qual podemos ser, propriamente, partícipes esteticamente ativos, e avaliativos. É o retorno ao ambiente como vivência ontológica, fenomenológico existencial dialógica, o ambiente como a alteridade radical de um tu, que pode ser o fundamento de uma estética, especificamente ética, ambiental. O fundamento de uma estética, especificamente ética, da sustentabilidade, e da preservação ambientais.


O logos, o sentido da vivência ambiental, do ser ambiental que somos, fenomenológico existencial dialógica, nos é dado, assim, em nosso modo ontológico de sermos, fenomenológico existencial dialógico. A compreensão, portanto, de nossa intrínseca ambientalidade como seres, pressupõe assim a natural alternância entre o nosso modo de vivência ontológica, e o nosso modo de vivência não ontológica.
Quando é obstruída a natural alternância entre esses dois modos de sermos, prejudicada, não nos é dada a vivência compreensiva de que nós mesmos e o que entendemos como meio ambiente fazemos, na verdade, parte de uma integridade ontológica, que é indissociável, do ponto de vista da vivência fenomenológico existencial. E que se dá numa dialógica sensível, estésica, e estética, que dura indefinidamente.
A prevalência da prejudicação da alternância entre os nossos modos de vivência ontológica compreensiva, e o modo de nossa experiência não ontoló-gica objetivista, nos leva à ruptura da apreensão compreensiva de nossa inte-gridade e de nossa integração dialógica ambiental. Levando a uma relação problemática, utilitária e hostil com um meio ambiente constituído como objeto inevitavelmente a ser espoliado, a ser explorado, hostilizado, e destruído.
O resgate da alternância entre os nossos modos fenomenológico exis-tencial, e o nosso modo não fenomenológico existencial propicia, na vivência deste, a vivência propriamente dita do ambiente, que não é da ordem das coi-sas. É o modo de sermos desta nossa vivência ontológica, fenomenológico existencial dialógica que permite a vivência estésica (corpo, sentidos e vivido) do ambiente. Vivência intrinsecamente avaliativa, de uma estética, que se constitui como ética ambiental.


Bibliografia.
BUBER, Martin EU E TU. São Paulo, Centauro, 2001.
HEIDEGGER, Martin SER E TEMPO. Fondo de Cultura, 1985.
NIETZSCHE, Frederich GENEALOGIA DA MORAL.

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