domingo, 11 de outubro de 2009

PSICOLOGIA AMBIENTAL. FENOMENOLÓGICO EXISTENCIAL. ABORDAGEM ROGERIANA. ABORDAGEM GESTÁLTICA.

Afonso H Lisboa da Fonseca, psicólogo.




A Abordagem Rogeriana e a Psicologia da Gestalt que deriva da Gestal’terapia de Perls são duas das mais conhecidas e efetivas abordagens con-temporâneas de psicologia fenomenológico existencial. De ampla aplicação, no âmbito da chamada clínica psicológica, dos trabalhos com grupos, dos traba-lhos na escola, na empresa, no âmbito dos trabalhos de ação social, e na cha-mada psicologia jurídica, dentre outras áreas, essas abordagens não foram pensadas, entretanto, conceituadas e exercidas, ainda, com relação a sua pertinência e produtividade no âmbito da Psicologia Ambiental especificamente fenomenológica e existencial.
A lacuna é muito significativa enquanto tal. Em particular porque é a rup-tura paradigmática que estas abordagens constituem, com relação a paradigmas objetivistas, e a paradigmas idealistas -- em direção a uma ontologia fe-nomenológica e existencial -- , que permite, não só uma interpretação do ambiente em sua ontologia, no âmbito de seu sentido ontológico, mas a pers-pectiva de uma avaliação ontológica, e especificamente estética do ambiente. Ou seja, é esta ruptura paradigmática que permite e potencializa uma apreensão, uma apreensão compreensiva, a compreensão, e uma interpretação e a-valiação, especificamente compreensivas, estéticas e ontológicas do ambiente.
A psicologia fenomenológico existencial, portanto, a Abordagem Gestál-tica, e a Abordagem Rogeriana, permitem e potencializam assim importantes abordagens de psicologia ambiental, assim como importantes subsídios para a militância ambientalista, para a educação e produção cultural ambientalistas, e para ciência ambiental; na medida, em particular, que contribuem diferencia-damente na constituição de uma ética ambiental especificamente fenomenoló-gica, e existencial, estética, e em consonância com uma ontologia fenomenoló-gica e existencial e estética do ambiente. Para além dos paradigmas idealista, e dos paradigmas objetivistas e coisificantes do ambiente, e da psicologia am-biental.



PSICOLOGIA AMBIENTAL FENOMENOLÓGICO EXISTENCIAL
O AMBI-ENTE.

Em outro local (v. FONSECA, Afonso H L O Ambiente somos nós.) tra-tamos da integridade, da integração, que somos nós, enquanto Ambiente, ao modo de sermos de nossa dialógica fenomenológico existencial, e ontológica. No âmbito de nossa hermenêutica existencial.
No âmbito de nossa vivência ontológica, fenomenológico existencial, e estética, o ambiente é sempre a radicalidade alteritária de um tu.
E, igualmente, em nossa condição e modo ontológicos de sermos -- ou seja, ao modo ontológico, compreensivo, fenomenológico e existencial, dialógi-co, e ativo, de sermos --, estamos, necessariamente, implicados com o ambi-ente. Na intensionalidade própria e específica deste modo de sermos. Esta-mos, necessária e inextrincavelmente, implicados com esta radicalidade alteritária de um ambiente como tu, em sua ontologia (no seu sentido de devir), na dinâmica de seu devir outro, anteriormente à experiência da dicotomização sujeito-objeto.
Ou seja, ao modo fenomenológico e existencial de sermos, ao modo dia-lógico de sermos, modo hermenêutico de sermos, ativo, atualização, ao modo empático de sermos, somos, necessariamente, com o ambiente; integridade e integração, na dialógica inter ativa da momentaneidade da relação eu-tu. Na verdade, somos, nesses momentos dialógicos, um ser devir outro, que articula e integra o que entendemos como nós mesmos e o que entendemos como ambiente num campo dialógico de ação, de atualização.
De modo que, desta perspectiva, podemos compreender, e dizer, que o ambiente somos nós.
E é, apenas, na vivência deste modo ontológico de sermos que o ambi-ente pode se dar -- que nos podemos dar --, em nossa ontológica, dialógica.
É apenas na vivência desse modo ontológico de sermos, e conhecer, que podemos nos dar em nossa dialógica ontológica: inextrincavelmente impli-cados com o ambiente, enquanto radicalidade alteritária e ativa de um tu. Num modo de sermos que não é da ordem da objetividade, que não é da ordem da realidade – porque, própria e especificamente, é da ordem da possibilidade, e do seu desdobramento em ação, atualização --, modo de sermos que não é da ordem da dicotomização sujeito-objeto, que não é da ordem das relações de causa e efeito, que não é da ordem do útil e da utilidade, que não é da ordem do prático, que não é pragmático. Que é antes da ordem ontológica de sermos, devirmos, à ventura da inutilidade desproposital produtiva – estética, e poiética.
Ou seja: em seu modo e condição ontológicos de ser, em nosso modo e condição ontológicos de sermos, e conhecer, somos uma integridade e uma integração dialógica, uma implicação dialógica, interativa: somos o ambiente intensional, o ambiente enquanto compreensão, e enquanto ação, em seu a-contecer. Somos integridade e integração, que se rompe e se dicotomiza no que, como sujeitos, entendemos como o ambiente enquanto objetividade, nos modos não ontológicos de sermos. O ecossistema, como tal entendido. Ou se-ja: o ambiente como objeto, o ambiente como coisa, e como acontecido, o am-biente como casa.
Aos modos de sermos, e conhecermos, da consciência que não é vivên-cia ontológica: ou seja: ao modo reflexivo de sermos, ao modo conceitual e teo-rético de sermos; ou ao modo de sermos de nossa desconcienciação compor-tamental, -- modos eu-isso de sermos --, o ambiente é um isso. É um objeto, circunscrito em seu caráter de objeto. Circunswcrito em seu caráter de conhe-cimento representacional, reflexivo, conceitual. Na manipulatividade e utilidade inscritos na condição de sua instalação como realidade, como acontecido, co-mo realidade já atualizada, e como coisa.

O AMBIENTE COMO PRESENÇA E ATUALIDADE
No modo de sermos da vivência ontológica, fenomenológica e existenci-al -- que é, portanto, da ordem da compreensão, que é da ordem implicação (e não da ordem da explicação), que é da ordem da dialógica, e da empatia, eu-tu --, o ambiente é, eminente e especificamente, presença.
Enquanto presença é, como tal, ação; é atualização: atualidade.
A pres-ença é este modo ontológico pré-ente, pré-coisa, pré-real de sermos: este modo de sermos ontológico, fenomenológico e existencial, dialó-gico, compreensivo, ativo, de sermos de que falamos. No que nos é mais origi-nário, somos presentes, implicativos; não somos da ordem da realidade, da ordem da coisidade, do acontecido, da ordem da explicação. Somos da ordem da presença, do modo de sermos que é da ordem da possibilidade e do seu desdobramento em ação, atualização; somos da ordem da implicação, e do acontecer. O modo ontológico de sermos é o modo de sermos da pres-ença. O modo pré-coisa de sermos, presente, é, assim, o modo de sermos no qual, on-to-lógicamente, vivemos possibilidades, e atualização; possibilidades e o seu desdobramento, no que entendemos como ação, atualização. Não é da ordem da realidade, não é da ordem do acontecido, do factual, não é da ordem da coisidade. Presença é atualidade, é atualização, é ação.
Ainda que, passada a pontualidade de seu momento próprio, a vivência, a presença, se constitua inexoravelmente em coisidade, em realidade, em fato, em acontecido, eu-isso, ente, ent-idade.
Só como presença se dá o ambiente em sua/nossa ontológica.
O ambiente em sua efetividade e atualidade ontológicas só se dá como pres-ente, como pres-ença; e, naturalmente, como atualidade: como a atuali-dade que é intrínseca à presença, como atualização, como vivência de ação.
Assim, nesse modo ontológico de sermos, e de devir; neste modo de ser devir o ambiente, o ambiente não é objeto, não é um isso. Não é acontecido, mas é a própria vivência dialógica do acontecer. É presente, e atual. É a vivên-cia paulatina da performação, performance, da ação, atualização, inter ação (ainda que não exclusivamente inter humana). É a dialógica da relação de um eu implicativo com a radicalidade alteritária de um tu. Na dialógica de momen-taneidade da relação eu-tu.


A AMBIGUIDADE DIALÓGICA E FENOMENOLÓGICO EXISTENCIAL DO AMBIENTE.
O termo Ambi-ente remete a ele como um ente própria e eminentemente ambí-guo.
É ambíguo, o ambi-ente, tanto do ponto de vista dialógico; como do pon-to de vista fenomenológico e existencial.
Do ponto de vista dialógico, o ambi-ente é ambíguo porque o ambiente pode, alternativamente, ser:
(1) O Ambiente como eu-tu. Ontológico, compreensivo, presen-ça, e atualidade. Acontecer. Neste caso, própria e especifica-mente dialógico. E,
(2) O Ambiente como eu-isso. O ambiente como objeto, como coisa, como realidade, como acontecido.

Por outro lado, no modo especificamente ontológico, dialógico, de ser-mos (eu-tu), o ambi-ente oscila alternantemente na vivência da ambiguidade da movimentação interativa entre o eu, e a radicalidade alteritária de um tu.
No modo ontológico, eu-tu, de sermos, portanto, o ambi-ente oscila am-bi-guamente, na vivência da ambígua movimentação de uma lógica dial, dialó-gica: ambígua dinâmica de movimentação da momentânea implicação interati-va, recíprocamente remetente, entre um eu, e a alteridade radical de um tu. Logos.

De modo que, em termos de dialógica, o ambiente é de ambi-ente cha-mado porque é, caracteristica, própria e especificamente, ambí-guo. Ambíguo entre um poder ser dialógico, e um poder ser não dialógico. Em seu modo dialógico, ontológico, de ser, o ambiente é, ainda, ambíguo ao ser, em sua vi-vência, alternância dialógica da implicação interativa entre um eu e um tu. A movimentação vivencial implicativa intensional entre eu-tu. No âmbito do cam-po dialógico inter ativo que o modo eu-tu de sermos constitui.

Já em termos de uma perspectiva fenomenológica e existencial, mais especificamente, a ambiguidade do ambi-ente se constitui na alternância dele enquanto ambiente no modo ôntico de sermos do ser ambiental; e o ambi-ente em seu modo ontológico de sermos.
De um lado, ao modo ôntico de sermos: o ambiente vivido no seu modo de possibilidade exaurida, de objeto, de realidade, coisa. E, do outro, o ambien-te ao modo ontológico de sermos, o ambiente como vivência ontológica de possibilidade e de possibilitação, como presença, e ação, atualidade, sentido, e desdobramento de sentido.
Assim, o ambiente pode se dar ônticamente, como coisa; e pode, alter-nativamente, se dar, ontologicamente, fenomenológico e existencialmente, como vivência de possibilidade, e do desdobramento desta: como ação, como interpretação compreensiva fenomenológico existencial, como hermenêutica, como presença e atualidade.
Neste modo ontológico, o ambiente se constitui, estesicamente, como vivência sensível, e não abstrativa, de corpo e sentidos. No âmbito de uma es-tética ambiental; e como hermenêutica ambiental fenomenológico existencial.
Da mesma forma que alternamos, então -- entre um modo ôntico, e um modo ontológico de sermos --, assim alterna, também, o ambiente em seus modos de ser. Daí algo de sua ambigüidade, de sua ambientidade.
Ao modo ontológico, eu-tu, de sermos, duramos na intensionalidade da vivência ambiental de possibilidade que se desdobra em atualização, ação. E o ambiente se dá numa dualidade eu-tu, que é anterior à dicotomização entre nós mesmos como sujeitos, e o ambiente como objeto.
Como vimos, na momentaneidade da vivência, em nosso modo ontológi-co de sermos, o ambiente possui a potência da radicalidade alteritária de um tu, no desdobramento da dialógica eu-tu. Mas, neste caso, e justamente por isto, o ambiente, própria e especificamente, não é um objeto. Mas o devir de uma totalidade inter ativa que nos envolve e implica na dinâmica dialógica de sua integridade, na dinâmica implicativa de sua integração. De modo que, sem desconhecer a radicalidade de sua alteridade como tu, podemos dizer que o ambiente somos nós.

ESTÉTICA AMBIENTAL.
A CIÊNCIA E A ÉTICA AMBIENTAIS SÃO ESTÉTICAS.
Ao modo ontológico de sermos, ao modo ontológico de ser o ambiente -- fenomenológico e existencial, hermenêutico, dialógico, compreensivo, empático --, o ambiente é, somos, vivenciado(s) como estesia. É este o modo eminente-mente estésico, estético, e poiético de sermos. Em seu modo ontológico de devir, o ambiente se dá como, e no âmbito, de uma estética – de uma ciência estética?
Já que na ontologia de sua vivência é estésico, estético, a avaliação do ambiente só se pode dar estéticamente, estésicamente. A avaliação do ambi-ente é intrínseca à vivência de sua estesia. A vivência ambiental é, em si, ava-liativa.
A ciência e a consciência ambientais são eminentemente estéticas.
Da mesma forma que é estética a sua ética, a sua lógica, ação, e meto-dológica de sua interpretação.
A vivência estética do ambiente deriva naturalmente da insistência na, e da atualização da estesia, da sensibilidade não abstrativa. Deriva da qualidade de que é o modo não abstrato, não abstraído, não abstrativo, de sermos: o mo-do de sermos em que somos vivência imediata de corpo, e de sentidos; sem o distanciamento abstrativo teorético, ou comportamental. O corpo e os sentidos, enquanto vivência atualizativa, não estão abstraídos. O modo estético de ser-mos/ de ser o ambiente é/devém como sensibilidade atuante de vivência, de corpo, de sentidos.
O que define o estético, além de seu caráter pré-reflexivo, pré-conceitual, pré-real, é o seu caráter de atualidade e de pres-ença. O estésico, o est-ético, são atualidade – ação, atualização de possibilidade--, e presença.
O estético, o modo estético de sermos, é, assim, atualidade e presença. É o modo de sermos da ação, da atualização. Porque é, todo ele, impregnado de possibilidade e de ação; é animado pela força da possibilidade e de seu desdobramento, no que entendemos como ação, atualização, inter-pret-ação (especificamente compreensiva).
Ainda que não seja da ordem da realidade, da ordem da coisidade – já que é da ordem da possibilidade, e de seu desdobramento --, o estético, como vivência, é o modo de sermos que, em seu caráter de atualização, produz a realidade atualizada, constitui a atualidade realizada, à medida que a possibili-dade se desdobra, se atualiza, e se esvai enquanto tal, na constituição da rea-lidade: do acontecido.
Esta vivência do desdobramento estético de possibilidade, no que en-tendemos como ação, em sua pulsatividade própria, no modo ontológico, esté-tico, de sermos -- desdobramento que coisifica, que constitui os úteis e seus usos, que constitui a realidade, em sua ação, atualização --, este desdobra-mento e atualização, é o que entendemos como poiese.
A insistência neste modo de sermos da poiese, o privilégio deste modo de sermos, é própria e especificamente uma ética: a poiética: a ética de anuên-cia e do consentimento na potência, na possibilidade, e no seu desdobramento, na atualização, que são próprios ao modo ontológico de sermos, ao modo fe-nomenológico existencial de sermos, modo, portanto, ontológico, dialógico, es-tético, poiético.
Pois bem, é nesse modo estético e poiético de sermos, assim, que o ambiente própria e especificamente se dá, em seu caráter ontológico originário. Como atualidade, e como presença; como ação, como atualização, como com-preensão, como interpretação compreensiva, como intrínseca avaliação.


O MODO ONTOLÓGICO E FENOMENOLÓGICO EXISTENCIAL DE SERMOS É PRÓPRIA E ESPECIFICAMENTE EMPÍRICO E EXPERIMENTAL.
A ESTÉTICA, A METODOLÓGICA E A HERMENEUTICA AMBIENTAIS
FENOMENOLÓGICO EXISTENCIAIS SÃO FENOMENOLÓGICO EXISTEN-CIAIS, EXPERIMENTAIS E EMPÍRICAS.
O EMPÍRICO E O EXPERIMENTAL EM PSICOLOGIA AMBIENTAL
FENOMENOLÓGICO EXISTENCIAL.

É importante a compreensão ampla da essência, e das implicações de que o modo de sermos fenomenológico existencial, e dialógico, é um modo de sermos eminente e especificamente empírico e experimental.
É fenomenológico existencial, e dialógicamente, empírico na medida em que é implicação no modo de sermos da intensionalidade da vivência de possibilidades própria e inerente ao modo ontológico, fenomenológico existencial, de sermos.
Ou seja, o modo de sermos ontológico é fenomenológico existencial, e dialógicamente, empírico na medida em que se constitui como vivencia de im-plicação no modo tensional de sermos; modo intensional de vivência da tensão do possível, da possibilidade, e do seu desdobramento em ação, na perforrmá-tica da ação.
O modo vivencial, fenomenológico e existencial de sermos, em sua em-piria, é vivência não abstrativa de implicação com a possibilidade, e com os seus desdobramentos. É, imediatamente, vivência implicativa e intensional de corpo e de sentidos na vivência de ser no mundo.
Distinto, portanto, do modo de sermos da realidade. Modo de sermos es-te em que a força da possibilidade se realizou, já, e se constitui em coisa, se coisificou, se constituiu em fato. Criou, inclusive, a possibilidade da fatalidade.
O teorético se constitui como uma saída da condição empírica e implica-tiva deste modo fenomenológico existencial dialógico, e empírico, de ser no mundo.
Empírico, portanto, quer dizer a vivência não teorizante.
Da mesma forma que empírico quer dizer não comportamental.
Na medida em que o comportamental (com porto) é o modo de sermos da atividade padronizada e repetitiva. No qual se reduzem a vivência, e a pró-pria consciência.
Neste sentido, o processo da ação, como nos mostrou Hannah Arendt, é diferente do comportamento. Sendo a ação característica do modo fenomeno-lógico existencial, dialógico, e empírico, de sermos, per-form-ático. Enquanto que o comportamento, em seu modo próprio de ser, é assim distinto do modo de sermos da ação.
Posterior, e secundariamente, à efemeridade momentânea deste modo intensional de sermos, o momentum da força de sua pulsatividade se esvai.
E, da vivência e desdobramento da possibilidade, na ação, passamos aos, e nos constituímos nos modos não tensionais de sermos: os modos de sermos teorético, e do comportamento: modos pragmáticos, e não empíricos (no sentido fenomenológico), de sermos. Caracteristicamente diferentes do modo tensional, intensional -- modos pragmáticos que não se caracterizam pe-la tensão da pressão (ex-pressão) da força pulsativa de possibilitação que constitui o modo vivencial de sermos; modos de sermos, teorético, e compor-tamental, que não se caracterizam pelo caráter desproposital, e pelo caráter de inutilidade produtiva, e disfuncional, do modo ontológico fenomenológico exis-tencial, dialógico, e empírico de sermos.
Empírico, portanto, quer dizer dentro do perigo. Dentro do perigo e da fruição, do desfrute da ação, da atualização.
O modo vivencial, fenomenológico existencial, intensional, de sermos é fundamentalmente este modo de sermos de atualização do possível na vivên-cia e produção de efeitos da ação. Neste modo de sermos lidamos com a po-tência característica do possível como uma alteridade radical, que atualizamos.
Buber diria, não sou eu que faço acontecer, mas não aconteceria sem mim...
Este modo de sermos demanda a atualização de uma disposição para corrermos o risco da tentativa de, e tentarmos, atualizar a potência da possibili-dade de uma alteridade radical, na qual estamos implicados. Ariscarmos a in-certeza de seus processos de acontecer, e de seus efeitos. Que, em particular, incomodam ao cristalizado do acontecido, à realidade realizada, acontecida, coisificada, e impotente.
A disposição tentativa, e o risco da vivência da intensionalidade da po-tência do possível em sua constituição como ação é o sentido do verbo Grego perire. Que dá origem ao termo empírico (emperire); da mesma forma que dá origem ao termo perigo, e ainda, reveladoramente, ao termo e sentido de peri-to. Nunca é muito lembrar que a raiz perire dá origem aos termo pirata, pirar, respirar, transpirar. Termos do mesmo gênero.
No mesmo sentido, o termo ex-peri-mental tem origem no verbo perire. Neste sentido de desdobramento da ação, ou seja, de desdobramento do pos-sível, como potência de uma alteridade radical com a qual estamos inextrinca-velmente implicados vivencialmente enquanto ser no mundo.
O modo fenomenológico existencial e dialógico, estético, de sermos é, assim, empírico e experimental.
Na medida em que configura o modo único no qual podemos vivenciar o ambiente em sua ontologia, na medida em que se constitui como a ética e a metodológica na qual o ambiente é possível, o modo fenomenológico existen-cial e dialógico de sermos em sua empiria e experimentalidade é o modo no qual podemos vivenciar o ambiente como ação, como presença, como atuali-dade, como vivência fenomenal. O ambiente só se dá, e só é avaliável em nos-so modo estético de sermos, fenomenológico existencial e dialógico, própria e especificamente, estético, e experimental.
O caráter fenomenológico existencial empírico e experimental da ética, estética, e da metodológica da psicologia fenomenológico existencial é o modo próprio para a vivência do ambiente em sua ontologia, para a sua avaliação, atualização, e elaboração.


PSICOLOGIA AMBIENTAL ROGERIANA.
Empatia e ética, estética, ambientativa.
Normalmente não se pensa a Abordagem Rogeriana de Psicologia e de Psicoterapia como uma abordagem possível de Psicologia Ambiental. O que é de todo um equívoco, e que produz prejuízos para a possibilidade da própria abordagem, e da Psicologia Ambiental. Uma vez que, enquanto abordagem fenomenológico existencial e dialógica, fenomenológico existencial hermenêuti-ca, a Abordagem Rogeriana é, própria e especificamente, igualmente, uma substancial Psicologia Ambiental.
O elemento essencial, e central, da ética e da Abordagem Rogeriana é o modo de sermos da ação: da atualização --, própria e inerente à presença dia-lógica, à empatia. O próprio modo ontológico de sermos, portanto, da presença dialógica e da empatia, que se dá eminentemente estésico, e estético.
Este modo de sermos -- que é da ordem da compreensão, e da impli-cação, o modo ontológico, eu-tu, compreensivo de sermos --, foi privilegiado por Rogers no paradigma ético e metodológico da vivência de sua abordagem.
Na verdade, a própria potência, vontade de possibilidade, e ação, atuali-zação -- que a vivência do modo ontológico de sermos faculta, ontologicamente próprias ao humano --, foram privilegiadas por Rogers, como referencial intrín-seco de avaliação, de auto regulação, e de superação.
Carl Rogers compreendeu que uma tendência para a ação, uma tendên-cia para a atualização, tendência atualizante, nos anima, impulsiona, e orienta, básica e ontologicamente, constituindo-se como o nosso referencial intrínseco de avaliação.
Este modo ontológico de sermos -- modo de sermos da ação, da atuali-zação, modo eu-tu de sermos, modo de sermos da compreensão, e da ação, da atualidade, e da presença, modo de sermos que constitui a emoção -- é, própria e especificamente, o modo empático de sermos, o modo de sermos da empatia, da compreensão empática, ou da empática compreensiva.
A empatia é este modo ontológico, fenomenológico e existencial, dialó-gico, e ativo, atualizante, de sermos. O modo de sermos que é continente para a emoção.
Podemos entender que empatia significa ‘dentro’ do pathos.
O pathos, neste sentido, é o pathos entendido em seu sentido Grego o-riginal, de sensibilidade estética, e poiética. Sentido ainda continente para o caráter afetivo, emocional, que acompanha este modo pathico de sermos. A ética do pathos, pathética, é esta ética de anuência e da condescendência na momentaneidade estética, e poiética deste modo pathico de sermos.
Por outro lado, na acepção Latina de pathos, acepção que prevalece en-tre nós, o pathos denota predominantemente sofrimento e doença, e termina por se constituir nas nossas concepções de patologia. Mas no sentido Grego originário pathos remete à vivência sensível, ativa e emocionada.
É este o pathos, no sentido Grego, que está presente no sentido de em-patia: dentro da vivência páthica.
O pathos, a empatia, é eminentemente dialógica.
Como dialógica, como ontológica, a empatia não se restringe ao âmbito das relações interpessoais. O pathos, a empatia, igualmente, se dá no âmbito da relação com a natureza não humana, no âmbito das relações ambientais, portanto; e no âmbito da relação com o sagrado.
Desta forma, o modo de sermos da empatia se dá não apenas no âmbi-to -- dialógico, ontológico, fenomenológico, e existencial, ativo, atualizativo --, da relação inter humana.
O que chamamos de empatia se refere substancialmente ao modo fe-nomenológico existencial de sermos, ao modo ontológico de sermos, ao modo dialógico, compreensivo, estético, e poiético, modo ativo, e atualizativo, de sermos; o modo de sermos da presença, e da atualidade, e da atualização.
Que é, como vimos acima, o modo próprio no qual pode se dar a integri-dade, e integração, da vivência ambiental; da vivência de nós próprios como ambientes. Como vimos, o ambiente não se dá, em sua integridade e integr-ação, como coisa, como objeto, como realidade, como acontecido, como um isso. Em sua integridade e integração, o ambiente se dá como presença e a-tualidade, o ambiente se dá empaticamente, como empatia. O ambiente carece de nossa própria interpretação, de nossa própria ação, atualização... O ambien-te só se dá como ação, como interpretação compreensiva, como compreensão, estéticamente, poieticamente, dialogicamente, empaticamente.

Na Abordagem Rogeriana, não obstante, este modo de sermos -- que é o modo ontológico e ativo de sermos, o modo estético de sermos, o modo de sermos da ação (da atualização), a presença dialógica, a compreensão, a em-patia – é, indevidamente, pensado normalmente como circunscrito à pessoa, e à relação interpessoal. Isto decorre, evidentemente, do empirismo objetivista que ainda impregna certas mentes centradas, da falta de informação, e da ca-rência de uma cultura fenomenológica e existencial.
Própria e eminentemente fenomenológico existencial e dialógico esse modo de sermos, a limitação restritiva da empatia à relação interpessoal, é de todo indevida. E se dá, em particular, porque a empatia é pensada, ou não, a partir da perspectiva de um empirismo objetivista; e não fenomenológico. O que induz a uma distorção, e a uma perda deste seu caráter fundamental, a uma perda do caráter dialógico de que se reveste o fenomenológico, e a empatia. Ou seja, a uma perda do caráter fenomenológico e existencial, e dialógico, pró-prio e específico à ação -- à atualização --, à presença, e à empatia. Caráter fenomenológico próprio ao modo ontológico e fenomenológico de sermos.
Quando compreendemos o caráter específica e eminentemente fenome-nológico e existencial, dialógico -- intrínseco, e inalienável --, da presença, e da empatia, da ação, da atualização, da atualidade, entendemos o quanto é im-própria e indevida, não só a concepção delas como restritas à relação interpes-soal imediata, como o concebê-las da perspectiva de um empirismo objetivista. E não da perspectiva vivencial de um empirismo fenomenológico, existencial, e dialógico.
O dialógico, como característica particular e definidora da empatia, o modo de sermos eu-tu, na terminologia substancial de Martin Buber --, modo de sermos da ação e da atualização, não se limita ao âmbito da relação inter-pessoal, no crucial – mas não exclusivo -- âmbito da relação inter humana.
Própria e especificamente, o Dialógico (cf. Buber, M. Eu e Tu), o feno-menológico e existencial, o modo empático de sermos, se dá, como vivência, como relação eu-tu, como ação, atualização:
(1) no âmbito da relação com a natureza não humana;
(2) no âmbito da relação com o sagrado, e...
(3) no âmbito da relação inter humana.
No âmbito destas três esferas do modo de sermos da relação eu-tu o di-alógico se dá, fenomenológica e existencialmente, como presença, como atua-lização – como ação, como empatia...
De forma que não é, de modo algum, simplesmente no âmbito da rela-ção interpessoal que se dá o dialógico, a presença, a atualização: a empatia.

A condição de que o dialógico, o fenomenológico e existencial, própria e especificamente: a empatia, não se dá, apenas, no âmbito do interpessoal; a condição de que o dialógico, a ação – atualização --, a presença, e a empatia, enquanto modo de sermos, não se dá apenas no âmbito da dialógica do inter humano; mas similarmente se dá, nos âmbitos da dialógica da relação com a natureza não humana, e da relação com o sagrado, abre e constitui, não só, a possibilidade da ética e da metodológica de uma psicologia ambiental feno-menológico existencial, como a possibilidade da ética e da metodológica da psicologia ambiental gestáltica; assim como a possibilidade da ética e da metodológica de uma psicologia ambiental rogeriana, compreensiva, e em-pática – dialógica, e fenomenológico existencial. Constituindo assim a possibili-dade da contribuição diferenciada do paradigma da psicologia fenomenológico existencial, do paradigma da Abordagem Gestaltáltica, e do paradigma da A-bordagem Rogeriana para a Psicologia Ambiental.
Isto porque a questão fundamental da ética e da metodológica da Psico-logia Ambiental, a questão fundamental da Psicologia ambiental fenomenológi-co existencial, dialógica, é a questão da vivência ontológica, fenomenológico existencial, dialógica, empática, ativa, ato-ativa, atualizante, do ambiente vivên-cia ontológica. A vivência dialógica do ambiente como presença. Ou seja, a vivência do ambiente ao modo de sermos que é próprio à ética, à estética, e à metodológica da psicologia e da psicoterapia fenomenológico existencial, roge-riana, gestáltica. A ética, estética, e metodológica empáticas.

PSICOLOGIA AMBIENTAL GESTÁLTICA,
NA TRADIÇÃO DA GESTAL’TERAPIA.

Como sempre, ainda que tenha a sua particularidade, naturalmente, em termos essenciais, a perspectiva ética, conceitual e metodológica da Psicologia Ambiental Gestáltica não é muito diferente da perspectiva da Psicologia Ambi-ental Rogeriana. Variando, naturalmente, em estilos, e panelas, e em aspectos menores, tais como o das respectivas teorias clássicas. As teorias clássicas dessas abordagens configuram, na verdade, os seus aspectos mais frágeis e transitórios, na medida em que, meramente experimentais, num momento de precária de sedimentação e apreensão teórica de seus fundamentos, tendem a ser intensamente criadas, e recriadas, hermeneuticamente, pela vivencia mais consensual de sua metodológica, de sua ética, estética.
Como a Abordagem Rogeriana, a Abordagem Gestáltica (na tradição da Gestal’terapia de Perls) é uma estética: uma ética da vivência da estesia; uma ética do vivivencial, uma ética, uma estética, portanto, da ação, do devir... De modo que o seu interesse ético, estético e metodológico, fundamental se liga ao privilegiamento do modo fenomenológico existencial estético de sermos, op modo de sermos do devir e da ação (Que, tradicionalmente, em Gestalt Terapi-a, se chamou de Contato).
A partir daí temos toda a consideração fenomenológica e existencial por este modo ontológico de sermos, e do qual tratamos acima.
De fato, se podemos singularizar uma ênfase de estilo mais peculiar à Abordagem Gestáltica é a sua característica ênfase em uma disposição expe-rimental fenomenológico existencial, e expressionista. É de Perls a frase lumi-nosa de que qualquer problema humano só se resolve experimentalmente. De modo que uma explícita e enfática disposição fenomenológico existencial empí-rica e experimental sempre foi característica da metodológica de Perls.
Perls tinha um contato mais íntimo, no seu nascedouro, com esta dispo-sição experimental fenomenológico existencial e empírica. Não é teoricamente que Perls aprende esta arte empírica e experimental – a arte da experimenta-ção fenomenológico existencial empírica. É, sobretudo, no teatro expressionista experimental, é com o Expressionismo, e com o desdobramento em sua pró-pria existência da compreensão do íntimo vínculo entre humanidade, a quali-dade de ser/devir humano, e esta disposição experimental fenomenológico e-xistencial, dialógica.
A disposição experimental do Expressionismo fortemente derivava da valorização da vivência compreensiva-expressão, de Dilthey, e do perspecti-vismo experimental de Nietzsche. As considerações pelos processos de consti-tuição da forma, da formação, da performance, que a Psicologia da Gestalt da-va forma, em sua versão psicológica, foram profundamente apreendidas por Perls.
Mais que isto, o caráter propulsivo da existência [ex-(in)is(sis)tência], a partir de sua condição específica de possibilidade, de potência, de possível, de poiese e de poiética -- ou seja, o seu caráter de projeto de projetação; o seu caráter de perspectiva, perspectivação, perplexidade; o seu caráter de disegno (na formulação do Renascimento); o seu caráter de Gestalt (na acepção de devir já de Goethe); o seu caráter de performance, e de expressão, do Expres-sionismo; o seu caráter de Outlook (outsight?); foram perfeitamente entendidos por Perls. Não de um modo teórico, mas a partir de sua vivência do Expressio-nismo, da Teatralização Expressionista.
E, neste sentido, a disposição experimental aparece de um modo muito mais forte, e mais nítido, na atitude experimental da metodológica estética de Perls. Pelo menos com relação aos momentos iniciais da abordagem de Carl Rogers.
Centrada na ação, na atualização, e em suas condições, naturalmente que a ética, e a metodológica, de Carl Rogers eram, evidentemente, empíricas, e experimentais, no sentido fenomenológico existencial; o que foi ficando mais evidente nos momentos mais avançados de sua obra, em particular no concer-nente aos trabalhos com grupos, e no modo como os trabalhos com grupo, em sua radical experimentalidade fenomenológico existencial, recriam toda a abor-dagem, inclusive a chamada terapia individual.
Mas Perls é muito mais ostensivo, essencial, dramático, e explícito, com relação ao privilegiamento deste aspecto fenomenológico existencial experi-mental da existência, e de sua metodológica, e estética. O que, efetivamente, caracteriza um momento muito particular, e importante, desta metodológica, e desta estética. Podemos dizewr que o Perls da Gestal’terapia já nasce estético, e fenomenológico existencial empírico e experimental.

Assim, a estética, e a metodológica da ação, de Perls -- fenomenológico existenciais empíricas -- têm, uma importância particular para a psicologia am-biental, para a psicologia ambiental fenomenológico existencial.
Esta particularidade, e esta importância, derivam eminente e especifica-mente do dado de que, como vimos, em sua ontológica, o ambiente é, e só se dá, de forma fenomenológico existencial e dialogicamente empírica e experi-mental. O ambiente é especificamente fenomenológico, e existencial: o ambi-ente só se dá ao modo de sermos da presença, como atualidade, como ação e atualização. O ambiente só se dá de um modo fenomenológico existencial hermenêutico: O ambiente só se dá como interpretação fenomenológico exis-tencial. O ambiente só se dá de um modo fenomenológico existencial experi-mental e empírico. O ambiente só se dá como criação, e intrínseca estética, já como avaliação.
E são justamente essas características da existência-e-do-ambiente que Perls enfatiza na estética de sua metodológica. Perls dedicou-se meticulosa-mente ao desenvolvimento de uma metodologia estética e experimental, per-form-ativa. De modo que, ainda que interessado na chamada psicoterapia, Per-ls desenvolveu de um modo ousado a metodológica de uma estética, que é única em termos de experimentação fenomenológico existencial.
E que é efetivamente única em nossas relações ambientais, e nas rela-ções, avaliações e metodológicas de uma psicologia ambiental fenomenológico existencial dialógica, expressiva.
Perls ajudou-nos a aprender que, literalmente, só existimos quando cri-amos. E que o fundamento desta criação é o modo de sermos – vivencial, fe-nomenológico existencial e dialógico – do possível, da potência, da possibilida-de, do poiético, que se bosqueja e esboça em pro-jeto, projetação, em disegno (existencial), em perspectiva, em Gestalt, em ação – ou seja, empírico, e expe-rimental.
O ambiente, em seu caráter ontológico -- enquanto presença, e enquan-to atualidade, só existe na medida em que, pela vivência, e pelo desdobramen-to da vivência do possível, ousamos criá-lo e avaliá-lo no seu (nosso) modo fenomenológico existencial, empírica e experimentalmente. Na medida em que ousamos interpretá-lo fenomenológico existencialmente. Da mesma forma que esta interpretação e criação experimentais já são em si avaliativas. Nos outros modos de sermos -- em nossos modos teorético e comportamental --, o ambi-ente se dá como possibilidade exaurida, possibilidade realizada, como coisa, como acontecido.
A ética da Gestal’terapia, e a sua metodológica da atualização, definem o cerne da ética, estética, e de uma metodológica da Psicologia Ambiental Fe-nomenológico Existencial.


Assim, do momento em que entendemos o ambiente em sua ontológica de presença, e de atualidade, compreendemos a importância e o interesse da ética e da metodológica das psicologias e psicoterapias fenomenológico exis-tenciais – tratamos aqui da Gestal’terapia e da Abordagem Rogeriana na cons-tituição, no exercício e desenvolvimento de uma Psicologia Ambiental Fenome-nológico Existencial.

Bibliografia
Buber, Martin Eu e Tu.
Heidegger, Martin Ser y Tiempo.
Perls, Fritz. Gestalt Therapy. Excitt and Growth in Human Personality.