sexta-feira, 7 de agosto de 2009

A EXPERIMENTAÇÃO EM PSICOLOGIA AMBIENTAL FENOMENOLÓGICO EXISTENCIAL

Afonso H Lisboa da Fonseca, psicólogo.


O que, muito propriamente, caracteriza o ambi-ente é a sua ambi-guidade ontológica; ou, mais especificamente, a sua ambigüidade ôntica e ontológica. Muito propriamente esta ambi-guidade do ambi-ente se dá, numa primeira forma
(1), a partir da dualidade da ambi-guidade própria à alternância dos dois modos de sermos: o nosso modo ôntico, e o nosso modo ontológico de sermos. O ambiente, alternativamente, pode se dar ônticamente, de uma forma, num modo ôntico de sermos; e o ambiente se dá ontológicamente, numa outra modalidade, ontológica, de sermos.
O segundo modo da ambi-guidade do ambi-ente
(2) se dá na interioridade, digamos, no próprio âmbito, na verdade, na vigência alternativa, do modo Ontológico de sermos. Pela dualidade dinâmica e inter-ativa, dialógica, dos dois pólos, eu-tu, segundo Buber, que a constituem. Na vivência ambientativa dialógica, ontológica, o ambi-ente se dá na movimentação fenomenológico existencial intencional de um tu, e para um tu, na relação intressante (inter-essere) entre alteridades radicais, que, todavia, se implicam necessariamente no âmbito de uma vivência compreensiva.
Ônticamente, o ambiente é coisa, objeto, causalidade, utilidade, é pragmático, e comportamental, é acontecido, possibilidade atualizada, exaurida, não tem atualidade nem presença...
Ontologicamente, o ambiente, própria e especificamente, não é coisa; é vivência ontológica, fenomenológico existencial intencional, dialógica; não é objeto, é uma alteridade radical, um tu, com o qual estamos total e cabalmemente implicados na pontualidade de sua vivência momentânea. Ontologicamente o ambi-ente não é da dimensão de sermos da utilidade e da utilização; o ambiente neste modo ontológico de sermos não é, assim, prático; não é pragmático, o ambiente, neste modo ontológico de sermos, não é da ordem da vivência da realidade, na medida em que é da ordem da vivência de possibilidade, e da vivência do desdobramento de possibilidade, no que chamamos de ação, atualização, interpretação compreensiva, experimentação, no sentido fenomenológico existencial, dialógico.
Assim, a primeira ambi-guidade do ambi-ente é que ele pode ser coisa, acontecido, ôntico; e ele pode ser pré-coisa, pres-ente, pres-ença (o nosso modo pré-coisa de ser), tu, acontecer, modo ontológico, dia-lógico de ser.
Neste modo ontológico de sermos estamos implicados enquanto ambi-ente na ambiguidade da dialógica eu-tu, na qual eu e tu são alteridades radicais, mas que necessariamente se implicam, na movimentação fenomenológico existencial, intencional, compreensiva, de uma dialógica que propicia a ação em seu sentido fenomenológico existencial originário: a atualização fenomenológico existencial de possibilidades.
O modo de sermos da realidade é própria e especificamente o nosso modo ôntico de sermos. Para aquém do modo ôntico de sermos, no qual se configura a realidade, somos, portanto, o modo de sermos da possibilidade, o modo de sermos em que vivenciamos a potência do possível, da possibilidade, e o seu desdobramento, no que entendemos como ação, interpretação compreensiva, no seu sentido própria e especificamente fenomenológico existencial, experimentação fenomenológico existencial.
O modo de sermos da vivência ontológica é estésico, uma vez que é vivência imediata, que não é abstrato (como a consciência conceitual, teorética), e é imediaticidade de vivência de corpo e de sentidos. Pré reflexiva, pré-prática, pré-pragmática, pré-comportamental.
Em sua qualidade própria, assim, em sua propriedade, em sua onto-lógica, o ambiente, a vivência ambiental, a dialógica ambiental, são, como tais, específica e eminentemente estésicos: vivência sensível, pré-reflexiva, pré-conceitual, pré-pragmática, e pré-comportamental, fenomenológico existencial. A vivência estésica é ativa, é ação, na medida em que, especificamente, é vivência de possibilidades e desdobramento destas, é ação, atualização de possibilidades.
O modo de sermos que privilegia a vivência estésica, fenomenológico existencial, poiética, é a estética. A anuência na vivência estética, estésica, a vivência de possibilidades, e a vivência do desdobramento de possibilidades, que se configura como ação, no seu sentido existencial e fenomenológico, ontológico, constitui especificamente o que chamamos de experimentação no seu sentido fenomenológico existencial.
O ambiente, portanto, em seu caráter ontológico originário, fenomenológico existencial, dialógico, é dado como vivência ativa, como ação, como atualização; é eminente e especificamente estésico, e só esteticamente é dado em sua ontológica, como interpretação fenomenológico existencial compreensiva, como experimentação compreensiva, empírica, fenomenológico existencial.
Existe, assim, um nexo necessário e incontornável entre o ambiente e ambienticidade ontológicos, poiética, estética, ação, e experimentação fenomenológico existencial.
Como vivência fenomenológica de possibilidade, e do desdobramento dessas possibilidades, a experimentação fenomenológico existencial remete ao sentido original do termo ex-peri-ment-ação. E que, do verbo Grego perire, remete ao sentido de arriscar, tentar; raiz, igualmente, da palavra perigo, da palavra e do conceito de empírico, de empirismo, e da palavra e conceito de pirata, dentre outros. A experimentação, a ação, a atualização -- no sentido fenomenológico existencial, como vivência de possibilidade, e vivência do desdobramento de possibilidade --, remetem ao caráter ex-peri-mental da própria ex-istência. Na medida em que o eksistencial demanda intrinsecamente a tentatividade, e o arriscar; a ação, a experimentação, nesse sentido específico.
Em primeiro lugar, o risco mesmo de incorrermos neste modo existencial de sermos, modo fenomenológico eksistencial, ontológico e ontogênico. Que, condição fundamental, enquanto modo fenomenológico existencial de sermos, não é da ordem da consciência ociosa do que entendemos por realidade. O modo de sermos da realidade é da ordem do modo de sermos do acontecido, da coisidade, do eu-isso, como designou Buber. O modo fenomenológico existencial de sermos, o modo de sermos ontológico, e ontologicamente ambiental, não é da ordem da realidade, porque é da ordem do possível, e do desdobramento do possível, como ação, experimentação. Como tal, o modo ontológico de sermos, o modo ontológico de sermos ambientais, é, portanto, da ordem da pres-ença, do pres-ente - o modo de pré-coisa de sermos. Pré-reflexivo, pré-conceitual, pré-comportamental, pré-pragmático; fenomenológico existencial.
Todo o modo ontológico de sermos, em particular, de sermos ambientais: modo fenomenológico existencial de sermos, é da ordem de sermos da compreensão: a vivência do possível e da possibilitação, da ação, da atualização, da vivencia estética, estésica, do pré-teórico, e do pré comportamental, se dão como compreensão. O modo ontológico de sermos, portanto, não é da ordem do modo da explicação, o modo teorético de sermos, mas da ordem do modo de sermos da implicação, que se dá ao modo de sermos da compeensão. O modo ontológico de sermos, pré-reflexivo, pré-comportamental, pré pragmático, no qual somos e vivenciamos possibilidades e o seu desdobramento, no que chamamos de ação, experimentação.
Daí ser este modo de sermos, enquanto modo ativo de ser, modo experimental de sermos, o modo de sermos imediatamente sensível, o modo de sermos estésico.
O Estésico é um vento que sopra no Mediterrâneo em determinada época do ano, e que impulsionava as velas. A potência do possível que impregna e que se desdobra nesse modo sensível, estésico, fenomenológico existencial de sermos, fez com que os Gregos dessem a este modo de sermos o nome do vento Estésico. A vivência do possível, e do seu desdobramento, é uma ventura, um devir... A Estética é sempre um modo de sermos da vida à ventura da potência do Possível. A aventura da vivência e da atualização do possível. O que demanda uma disposição de tentar, de arriscar, de correr os seus riscos. Ao privilegiarmos modo ontológico de sermos, o modo estésico de sermos, de sermos, somos estéticos, e experimentais. A estética é, assim, a ética da estesia que privilegia a vivência pré-reflexiva, pré-conceitual, pré-pragmática, e pré-comportamental, toda impregnada da característica ontológica do humano, qu e é a da vivência de possibilidade, e de desdobro de possibilidade, no que entendemos como ação. O possível, a vivência do possível é assim como um vento, uma ventura, que impulsiona a ação efetiva, ontológica, fenomenológico existencial. De modo que o modo ontológico de ser é o modo de sermos de uma vida à ventura, à ventura da potência do possível, da possibilidade, à ventura de sua atualização, um des-porto.
O ambiente, no seu sentido ontológico, é, assim, estético e experimental. Intrinsecamente hermenêutico, como de resto a existência, na medida em que se dá como ação, como experimentação fenomenológico existenciais, como interpretação fenomenológico existencial: como interpretação compreensiva, compreensão.
O ambiente no modo de sermos do porto seguro da reflexão, o ambiente conceitual, teorético, comportamental, técnico, não é o ambiente em sua originalidade ontológica. Antes, o ambiente é poi-ético, é estético. E assim é que o ambiente é necessariamente experimental e fenomenológico existencial. Arriscante e perigante, enquanto ex-peri-ência, mas possibilidade ontológica de compatibilidade com o vivo e com o vivente, possibilidade de, e em, ação e atualização. Ex-peri-ment-ação -- no seu sentido original, ontológico, fenomenológico existencial.
Experimentação, nesse sentido, é pensar, e agir. Sendo que pensar, enquanto tal, é já agir, e agir já é pensar; nas dimensões meramente compreensiva, e compreensiva e motora da ação da ação e do pensamento.
Ontologicamente, portanto, a própria ação, atualização, é perigante, arriscante: experimental. Na medida em que, na ação, na atualização, na experimentação, como nosso modo fenomenológico existencial de sermos: de vivência e atualização de possibilidades, lidamos fundamentalmente com um modo de sermos da incerteza e da inconveniência da potência do possível, e de sua atualização. Ainda que seja este também o modo de sermos do interêsse (inter-essere). O modo de sermos em que não somos da ordem da dicotomização sujeito-objeto, em que não somos da ordem da causalidade, em que não somos, e o mundo, o ambiente não são da ordem da utilidade -- não são da ordem de uma pragmática, nem são, como vimos, da ordem da realidade --; antes, são da ordem do possível e do acontecer; e não da ordem do acontecido, e da coisidade, como é característico da realidade. São a atualidade, o nosso modo próprio da ação, são o pres-ente, o modo de pré-coisa propriamente de sermos. Que se caracteriza pela atualidade, pelo attum, pela ação. Experimental, tentativo e arriscante, enquanto vivência e atualização de possibilidade, mas o modo próprio de nossa potência criativa. O modo da potência de um ambiente própria e especificamente possível. Que, tu, alteridade absoluta, não é criado, já ao nível da vivência, pela potência de nossa interpretação e experimentação, mas que igualmente não existe sem elas.
O ambiente só se dá, assim, ontológicamente; o ambiente só se dá estéticamente, o ambiente só se dá compreensivamente, o ambiente só se dá como ação, como atualização, no seu sentido fenomenológico existencial efetivo; o ambiente só se dá experimentalmente, só se dá como experimentação, portanto, como interpretação fenomenológico existencial, compreensiva, implicativa. Por isso, já na sua interpretação o ambiente é perigante, e arriscante, ex-peri-ment-ativo. O ambiente, assim, em sua qualidade ontológica, e originaria e efetivamente ambiental, só se dá ao modo ontológico de sermos; só se dá ao modo existencial e fenomenológico de sermos, só se dá ao modo de sermos dialógico, eu-tu de sermos. Ao modo de sermos do 'acontecer', da ação, da atualização: da experimentação fenomenológico existencial.
O ambiente que a consciência ociosa experiencia em nosso modo ôntico de ser, o ambiente que se dá ao modo eu-isso de sermos, o ambiente que se dá teóricamente, conceitualmente; o ambiente comportamental, o ambiente pragmático, é e será sempre o ambiente como coisa, o ambiente como objeto, o ambiente utilizável, o ambiente pragmático, o ambiente ausente, a anambientalidade, o ambiente como acontecido. E não o ambiente como possibilidade, desobjeto, inutilizável, o ambiente como ação e como acontecer. Como é próprio da atualidade, e atualização, intrínsecas a sua originalidade ontológica, que é existencial e fenomenológica.
O ambiente, assim, em sua originalidade ontológica -- ontológica de todo e qualquer ambiente, e, naturalmente, ontológica de todo e qualquer humano; acessível a qualquer um e a qualquer momento, na qualidade de nosso modo ontológico de sermos, fenomenológico existencial -- o ambiente em sua qualidade é, assim, própria e especificamente experimental, neste sentido fenomenológico existencial.

Porque em sua ontologia, em sua qualidade ontológica, em seu onto-logos, em seu sentido ambi-ental -- ambielógos, ambielogia --, o ambiente não é a experiência da coisa, do objeto, do utilizável, do pragmático, do real, do acontecido. O ambiente é experimentação fenomenológico existencial, o ambiente é ação compreensiva, meramente compreensiva ou compreensiva e motora. O ambiente é, assim, vivência de possibilidade e vivência de desdobramento de possibilidade. Com todo o sentido do perire Grego, de arriscar, de tentar, atualizar o pot-ente, o po-ssível, a po-iese: disposição tentativa mesmo ao risco da incerteza, ao risco da inconveniência, ao risco da des-portação do com-port-amento, ao risco da des-portação do técnico, do teórético conceitual, do pragmático: a experimentação no seu sentido fenomenológico e existencial. Sentido este em que a experimentação é a própri a vivência, não teorética, portanto, da possibilidade e do seu desdrobamento: da ação, que é estésica, que fenomenonológico existencial, sensível, no modo de sermos, estésico, que é pré-reflexivo e pré-conceitual, estético; a ética e a fonte da ação, do valor e da avaliação ativos, criativos.

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