sexta-feira, 7 de agosto de 2009

AQUÍFERO GUARANÍ. PRESERVAÇÃO AMBIENTAL E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

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Ensaios Experimentais de Psicologia Ambiental 2.
AQUÍFERO GUARANÍ
PRESERVAÇÃO AMBIENTAL
E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Afonso H Lisboa da Fonseca, psicólogo.
'És o que nos traz vida, Água.
És a fonte de nutrição, que nos dá força.
Rejubilamo-nos com a tua existência.
A ti bebemos com alegria, como os bebês bebem o leite de suas mães.
E quando te tomamos, recebemos amor.
Leva embora todos os meus pecados, e as minhas falhas,
e tudo que tem sido ruim em minha vida.
Eu te busco hoje; e mergulharei no teu molhado estado.
Afoga-me no esplendor.'
Os Vedas.
O Aqüífero Guaraní é uma dessas abundantes dádivas da natureza. Mas uma mega dádiva. Um mar de água doce subterrâneo, em sua maior parte no subsolo do Centro-Oeste, do Centro-Sul e Sul do Brasil; abrangendo áreas significativas, também, do subsolo da Argentina, do Uruguay e do Paraguay.
O Aqüífero Guarani se situa, assim, numa área subterrânea entre estados do Centro-Oeste e do Centro-Sul do Brasil, que, na superfície terrestre, abrange mais da metade da superfície do estado do Mato Grosso do Sul, mais ou menos um terço do estado de Goiás, toda a superfície do Triângulo Mineiro; mais da metade da superfície do Estado de São Paulo, mais da metade da superfície do Estado do Paraná, metade da superfície do Estado de Santa Catarina, metade da superfície do Estado do Rio Grande do Sul; algo do subsolo do Mato Grosso; e o subsolo de milhares de quilômetros da superfície do Uruguay, da Argentina e do Paraguay.
Em alguns lugares as águas do Aqüífero Guarani afloram à superfície. Em outros ele pode ter até 1500m de profundidade, ou até mais.
O maior reservatório de água doce subterrânea do mundo.
850.000 km sob a superfície do território do Brasil, 225.000 km sob a su-perfície da Argentina, 70.000 km sob a superfície do Paraguay, e 40.000 km sob o território do Uruguay. Área total de 1.190.000 km. Com profundidades que variam desde os níveis da superfície, como dissemos, até mais de 1500 metros. 37.000 km de reservas de água -- cada quilômetro correspondendo a 1.000.000.000.000 de litros de água!!! (minha calculadora não pôde calcular o total de reservas de água do Aqüífero... Quem quiser, é só multiplicar 37.000 km por 1.000.000.000.000 de litros, e terá uma média do total de litros de Água armazenados anualmente no Aqüífero, sob os estados do Centro-Oeste e do Centro-Sul do Brasil, e dos territórios da Argentina, Paraguay e Uruguay...).
O Aqüífero Guarani -- que recebeu este nome porque está situado no sub-solo da região geográfica onde se localizou a República sobrevivente dos Índios Guaranis, dizimados pela colonização --, se formou em tempos remotos da geogênese. É uma estrutura geológica dinâmica. Que acumula imensidões de água pura. E que, ao mesmo tempo em que perde, inevitável e sazonalmen-te, as suas águas -- através da tributação a cursos de água da superfície, e pelo consumo humano --, é reabastecido sazonalmente, também, pelas recargas de-correntes dos ciclos geológico das águas. Existe assim um equilíbrio dinâmico de descarga e recarga sazonal das águas do Aqüífero.
Para isso, ele tem afloramentos na superfície, que são pontos específicos destas descargas, e recarga. E que são, igualmente, pontos de vulnerabilidade do aquífero. Na medida em que esses pontos de recarga podem ser, também, pontos por onde a poluição, e a contaminação ambiental podem adentrar a sua pureza interior. Pontos de sua vulnerabilidade, assim, porque através deles o aqüífero pode ser contaminado e/ou poluído.
O uso humano irracional das águas do aquífero pode, também, alterar o equilíbrio de seus ciclos de descarga e de recarga. Em particular, quando consi-deramos que na superfície de áreas de abrangência do Aqüífero Guarani se situam grandes centros urbanos, como os do interior de São Paulo, do Triângulo Mineiro, de Santa Catarina, do Paraná e do Rio Grande do Sul. Da mesma forma que se situam enormes plantações, como as plantações de cana de Ribeirão Preto, as plantações de Soja, e outras. Estas plantações podem, pelo uso irracional, não sustentável, de águas para a irrigação, alterar a dinâmica dos ciclos de carga e descarga do aquífero. E podem nele introduzir agrotóxicos, inseticidas, fertilizantes, etc, através de suas áreas de sua recarga.
O desconhecimento é o problema, e risco, maior para o Aqüífero Guara-ni.
Na medida em que potencializa um uso irracional e predatório de suas águas. O desconhecimento impede uma compreensão pelas pessoas, e pela sociedade, da monumentalidade de sua importância, e de sua riqueza, a magnitude e a realidade de seus riscos, e a urgente necessidade da política de proteção ambiental, e de desenvolvimento sustentável.
Podemos preservar por milênios o Aqüífero Guarani, infinitas gerações podem desfrutar de suas águas. Se não as poluirmos, e se compatibilizarmos a sua proteção com um desenvolvimento sustentável.
O aqüífero teve a sua formação nos tempos geogênicos. No tempo em que se fragmentavam os continentes primitivos -- blocos unificados de todos os continentes do planeta. Fragmentação esta que veio a configurar aproximada-mente o que são os continentes atuais. Com a separação final do que hoje são o litoral da África e o Litoral do Nordeste do Brasil.
Na região da superfície onde hoje está o aquífero, havia um imenso de-serto, um deserto ainda maior do que o deserto do Saara. A atividade geogênica constituía intensa atividade vulcânica e cataclísmica. Num período de 2.000.000 a 10.000.000 de anos de atividade, toda a região deste deserto começou a ser subvertida. E suas areias foram progressivamente afundando, no sentido do que viria a ser o subsolo. Alternando aí camadas da rocha bassáltica das larvas vulcânicas, com camadas das imensas, geológicas, quantidades de areia. A imensidade de areia veio a se constituir como rocha arenítica, do tipo vermelho (arenito Botucatu), e do tipo esbranquiçado (pirambóia).
Essas imensas estruturas de rocha arenítica do subsolo foram geologica-mente formadas, nas proporções das imensas dimensões do deserto primitivo, pelas enormes camadas de areia. Caracteristicamente, é uma rocha muito poro-sa, e altamente permeável. O que permite uma enorme capacidade de absorção, e de armazenamento de água.
Nas proporções geológicas em que se formou no subsolo da região do aqüífero, esta enorme estrutura de rocha arenítica constituiu-se assim como a dádiva do imenso reservatório de água doce. Sazonalmente abastecido e reabastecido, durante milhões de anos, pelas águas dos ciclos geológicos. No subsolo de imensas regiões do Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, de Minas, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul; e regiões da Argentina, Uruguay e Paraguay...
Todo esse processo de formação ocorreu há cerca de 250.000.000 de anos.
Constituído o aqüífero, este processo manteve, por todo esse tempo, a pureza impressionante de suas águas; e as suas dinâmicas monumentais e equilibradas de descarga e de recarga.
Nos últimos, e parcos, 200 anos, acelerou-se o crescimento das grandes cidades. Que começaram a germinar nas regiões do aqüífero há mais ou menos 300 anos.
Com o aceleramento do crescimento das cidades, em particular com o acelerado crescimento das grandes metrópoles, com a abertura indiscriminada de poços de abastecimento, e de irrigação, veio o aumento proporcional do consumo da água do aqüífero, a poluição, as plantações -- e seus pesticidas e outros agrotóxicos. Começando a colocar em risco a pureza das águas do aquí-fero, e o equilíbrio de sua dinâmica de descarga e de recarga.
A pureza das águas do aquífero começou a ser colocada em risco pela contaminação e pela poluição dos pontos superficiais de recarga. Ameaçando comprometer o seu uso e desfrute pelas próximas gerações, caso a sua preser-vação e desenvolvimento sustentável não consiga manter as condições de pos-sibilidade de seu equilíbrio, e pureza...
No meio científico, e mesmo no meio estatal, já existe o despertar de uma consciência ambiental e ética com relação ao aqüífero. Já existe, com a participação do Brasil, da Argentina, do Uruguay e do Paraguay, o desenvolvimento de um programa multinacional de estudo, e de preservação; e de constituição das condições de desenvolvimento sustentável.
Mas, o desconhecimento da sociedade em geral é muito grande, e perigoso. A consciência ambiental crítica das sociedades pode garantir o desenvolvimento de políticas públicas, e de processos de produção cultural compatíveis com a preservação das condições de conservação e de uso racional, e ético, do Aqüífero Guraní.
Conhecer o Aqüífero Guarani, sua monumental realidade geológica, é uma tarefa primordial da psicologia, da educação, e da produção cultural ambientais.
(Na região existe um outro aqüífero, o Aqüífero Botucatu, menor do que o Aqüífero Guarani, mas igualmente de grandes proporções).
Os principais riscos que corre o Aqüífero Guarani são:
• O desconhecimento e desinteresse por parte do meio científico, dos órgãos do estado, das instituições da sociedade civil, e da so-ciedade em geral;
• A falta, pelo desconhecimento, de uma consciência ambiental crí-tica, que possa determinar políticas de estado e de produção cul-tural que façam frente aos riscos que corre o aqüífero, e aos desafios de sua proteção ambiental e desenvolvimento sustentá-vel;
• A ausência de uma postura ambiental éticamente responsável com relação ao aquífero, e com relação a sua enorme importância ambiental e antropológica;
• O risco de contaminação e de poluição das águas, através de sua recarga, pela poluição superficial. Indicando a premente necessi-dade de proteção de seus pontos superficiais e de recarga.
• A superexploração das águas do aqüífero, levando ao desequilí-brio de seus ciclos naturais, e a uma redução na disponibilidade de água, ou a um aumento no custo da exploração.
• As dificuldades de articulação institucional internacional, uma vez que o aqüífero se estende quatro países.
Bibliografia consultada:
OLIVEIRA, Cecy Aqüífero Guraní in Com Ciência Ambiental, ano 1, nº 4, 2006 pp.50-61.
PROJETO DE PROTEÇÃO AMBIENTAL E DESENVOLVIMENTO SUS-TENTÁVEL DO AQÜÍFERO GUARANI. www.sg-guarani.org/index/index.php. (em 16 de Março de 2007).
SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO.http://www.ambiente.sp.gov.br/aquife…/principal_aquifero.htm

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