segunda-feira, 3 de setembro de 2018

LUZIA. ADEUS, CONTERRÂNEA.
Réquiem por Luzia, 16 ou 60000 anos depois.
Afonso Fonseca, psicólogo.


Luzia foi uma mineira da região de Lagoa Santa.
Ouviu a música do vento, o murmúrio dos rios. Amamentou. Carregou crianças escachadas na cintura. Lutou, lutou.

Teria tido tempo de pensar no futuro?

Não imaginaria.

Nem imaginaria que pereceria, de modo tão trágico, pela irresponsabilidade de vermes, a quem, no ôco humano, só restaria a brutalidade, a burrice, o ressentimento, tantos anos depois, e num lugar estranho.

Talvez nunca tenha saído de Minas, e de seu quadrado, delimitado pelas montanhas.

Já seus ancestrais... Seus ancestrais...

Literalmente correram o mundo.

Na China, elaboraram a decisão de dividirem-se. Uma parte foi para o Sul. E compuseram a população dos Aborígenes australianos, e da Oceania.

Outra parte resolveu encarar o frio, e ver onde ia dar.

Chegaram ao Estreito de Behring. Então uma ponte entre o frio da Sibéria e o frio do Alaska.

Atravessaram-na. E, logo, estariam nas planícies da América.

Foi aí que Luzia, antes mesmo de nascer, tornou-se americana.

Colonizaram, sem pressa a América. Mas, seguiram em frente...

Transitaram pela América Central... E adentraram o Brasil, pela Amazônia.

Aí, viveram um dos mais importantes e impressionantes capítulos da história da Humanidade. Aí uma comunidade humana melhorou o solo da floresta.

Onde a comunidade habitava, aí o solo se constituía, por seu cultivo, em 'Terra Preta de Índio'. Uma terra de grande valor agrícola, ainda hoje presente, no interior da Floresta Amazônica...

Corria o ano de 12000 aec. Ou de 60000 aec, segundo alguns arqueólogos Brasileiros. Ou que trabalham no Brasil.

Vale lembrar o feito imenso de Luzia, e de seus ancestrais: a Pré-História oficial, colonialista, fixava em 3000 anos a chegada do homem na América. As fogueiras pré-históricas da Serra da Capivara dizem que já fazia 8000 ou, quem sabe 53000 anos (você pode imaginar?) que os ancestrais de Luzia comiam Mocós, na Serra da Capivara, e no Alto Sertão.

Luzia e seus ancestrais também carregam este título, de 'primeiros Sertanejos do Brasil'...

Não eram índios.

Pareciam mais com os aborígenes australianos. Pele negra, nariz volumoso e achatado... Eram os Paleo Índios. Os Índios viriam depois, e os expulsariam...

O fóssil de Luzia ajudou a baixar a data da chegada do homem no Brasil, colonialisticamente imposta, de 3000; Para 12000. E, talvez, para 60000 anos.

As populações dos ancestrais de Luzia floresceram nas cavernas do extremo deSERTÃO e no Brasil central. Até que chegaram grupos a Minas Gerais, e à região de Lagoa Santa.

Aí viveram, e morreram.

Um ser humano especial, o arqueólogo Dinamarquês Peter Lund (1801 - 1880), pai da Arqueologia brasileira, descobriu, e começou a estudar as cavernas da região. Para isso, mudou-se para Lagoa Santa.

Luzia estava lá. E foi descoberta, anos depois, por arqueólogos brasileiros.

Que logo entenderam a sua particularidade.

De sua Minas natal, Luzia sairia para o mundo.

Com técnicas modernas, os arqueólogos reconstituíram seu rosto, ajudou a estabelecer a teoria e a história dos Paleo-Índios.

Luzia não era mais apenas um crânio.

Agora, ela tinha pele e rosto... E era parte da história da Humanidade;

Destruídos no incêndio do Museu Nacional do  Brasil.

Em 02 de Setembro de 2018. Pela ação de energúmenos, que ninguém sabe quem são, e que serão esquecidos tão logo deixem suas sinecuras.

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